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Sinistro amazônico

Impossível não associar a alta do desmatamento a atos e omissões de Bolsonaro

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Incêndio na floresta amazônica na região de Apuí (AM) - Bruno Kelly - 3.set.19

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, como de hábito tenta isentar o governo Jair Bolsonaro de responsabilidade pelo aumento de 29,5% na área de floresta amazônica que sofreu corte raso entre agosto de 2018 e julho de 2019. Esforço fútil e inútil.

Verdade que o desmatamento não começou a recrudescer apenas sob Bolsonaro. Desde 2013 observa-se tendência de alta, que se deve atribuir, portanto, a Dilma Rousseff (PT) e a Michel Temer (MDB).

Não resta dúvida, porém, de que a política de Bolsonaro, ou a falta dela, contribuíram e muito para “potencializar” (como disse o próprio presidente) esse processo nefasto.

No período 2018-19, sofreram derrubada 9.762 km² (cerca de seis vezes a área da cidade de São Paulo)de floresta. Nos 12 meses anteriores, haviam sido 7.536 km², diferença que corresponde à taxa de 29,5% de aumento —a maior em 11 anos.

Só sete meses desse calendário da destruição coincidem com o atual governo, de fato. Durante os três meses da campanha eleitoral, quando o futuro presidente não economizou discursos em desfavor da Amazônia, a alta do desmate foi ainda maior, ao ritmo de 49%.

Segundo dados preliminares do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de janeiro a outubro de 2019 caíram 8.300 km² de mata amazônica, 70% mais que no mesmo período do ano anterior. Nessa toada, a taxa anual de 2019-20 poderá ultrapassar 12 mil km².

Já no Planalto, Bolsonaro não se limitou a ataques retóricos contra a proteção da Amazônia. Enquanto vociferava em defesa da soberania sobre a maior floresta tropical do mundo, aprofundava a destruição —incentivando garimpeiros, esvaziando o Ibama, intervindo no Inpe, menosprezando queimadas.

Acima de tudo está o fato de que Salles até hoje não apresentou política ou programa consequente para enfrentar a situação dramática. Sua medida mais proeminente foi inviabilizar o Fundo Amazônia, subtraindo doações internacionais que financiavam projetos de alternativa à destruição.

Os ventos que Bolsonaro e Salles semearam resultam agora na colheita de tempestade dupla. Primeiro, o país não logrará cumprir metas de redução do desmate assumidas no Acordo de Paris, deixando de dar sua contribuição para mitigar a crise do clima planetário.

Pior, surgem sinais de que o rastilho de ressecamento da Amazônia já se acendeu na sua porção sudeste, não por acaso a que abriga o chamado Arco do Desflorestamento. A prosseguir o fenômeno batizado como “savanização”, agronegócio e hidrelétricas sofrerão perdas com a redução de chuvas.

Sim, a Amazônia é nossa —mas não deveria ser para devastar como se não houvesse amanhã.

editoriais@grupofolha.com.br

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