Em seu tour asiático, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que isentaria de vistos para viajar ao Brasil cidadãos da China, da Índia e do Qatar, sem exigir reciprocidade desses países.
Bolsonaro já havia pouco tempo atrás dispensado de autorização os nacionais da Austrália, do Canadá, dos EUA e do Japão, também sem cobrar igual tratamento para os brasileiros.
A medida atende aos apelos de autoridades e entidades ligadas ao turismo, mas contraria décadas de estratégia da diplomacia brasileira, que sempre se pautou pelo princípio da reciprocidade: isentam-se de vistos os cidadãos das nações que isentarem os brasileiros.
A iniciativa presidencial representa um novo erro na cada vez mais longa lista de barbeiragens de política externa cometidas pelo governo. Para início de conversa, não é possível afirmar que a abordagem adotada até aqui pelo Itamaraty tenha sido um fracasso.
Afinal, brasileiros podem viajar sem necessidade de autorização prévia para 170 países, o que põe o Brasil na 17ª posição no rol de nações com mais acesso ao exterior.
Já os cálculos dos que afirmam que a isenção de vistos trará um grande incremento ao turismo nacional parecem fantasiosos.
O Brasil recebe hoje aproximadamente 6,6 milhões de turistas por ano. É pouco. A Costa Rica, com território comparável ao do Rio de Janeiro, recebeu 3 milhões de estrangeiros em 2018.
Não é preciso, porém, PhD em turismologia para perceber que altos custos, violência, a infraestrutura precária e a distância são barreiras muito mais importantes para o fluxo de visitantes do que os procedimentos burocráticos e as poucas dezenas de dólares de um visto.
E os desincentivos ao turismo vêm ganhando novos elementos na atual gestão, como o derramamento de óleo no litoral nordestino, as queimadas na Amazônia e a própria imagem de ser um país dirigido por um grupo de extremistas que não toleram gays e ainda têm atitudes misóginas e racistas.
Há até um argumento matemático a sustentar a posição tradicional do Itamaraty. Estudiosos da teoria dos jogos já demonstraram, tanto em artigos acadêmicos como em torneios envolvendo programas de computador, que a reciprocidade, o "olho por olho" se é lícito utilizar a expressão bíblica, é a estratégia mais eficiente para promover a cooperação entre indivíduos --e também grupos que interagem com certa frequência.
Se o governo Bolsonaro pretende mudar esse expediente, que conta com a chancela da ciência e obteve bons resultados ao longo das décadas em que foi utilizado, deveria apresentar uma razão melhor do que estimativas baseadas mais em desejo do que em realismo.
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