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Fernando Holiday

A direita e os LGBTs: uma abordagem necessária

Na esquerda, tornam-se militantes fervorosos

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Neste final de ano, em razão de convite do Departamento de Estado norte-americano, participei de um programa no qual estudei a inclusão social e os direitos das minorias (especialmente da população LGBT) nos EUA, sem custo aos cofres públicos. No grupo de brasileiros e na maioria das instituições que visitei, fui minoria: era o único liberal (em sentido clássico) na sala. Não tenho do que reclamar; tive discussões profícuas e fiz algumas amizades.

O que me estimula a escrever este artigo, contudo, é uma percepção quanto à forma pela qual a direita americana tem começado a tratar assuntos envolvendo a população LGBT. Alguns grupos têm se formado no Partido Republicano (dentre os quais se destaca o já antigo “Log Cabin Republicans”) e dentro de algumas organizações bipartidárias para buscar soluções de problemas que atingem de forma mais gravosa essa parcela da população. 

O vereador paulistano Fernando Holiday (DEM) discursa na Câmara Municipal de São Paulo - André Bueno/CMSP

Discussões sobre como incentivar o terceiro setor e a iniciativa privada na prevenção ao suicídio e no atendimento de jovens que sofrem com a automutilação por conta de sua orientação sexual, sobre políticas para o tratamento de portadores de HIV ou, ainda, formas de se prevenir o retrovírus nas gerações que não viram seus ídolos padecerem sob a epidemia e outros temas similares têm contado com a participação de republicanos nos EUA.

Por que deveríamos nos ater a isso? Porque o mesmo não ocorre no Brasil. Temos, de certa forma, permitido à esquerda dominar esses temas e, portanto, tomar para si a legitimidade no acolhimento de seus agentes. Quem tem acolhido os LGBTs quando são atingidos pela depressão, pelo desejo da dor ao se cortar, pela tristeza da expulsão de casa, pela frieza da rua e da prostituição nos grandes centros, ou pelo ódio perante as injustiças da vida? Geralmente são pessoas ligadas aos nossos adversários políticos, que têm tido relativo sucesso nos últimos anos em utilizar o ressentimento como arma política. E isso não se subestima.

Evidentemente, partir para essas discussões não significa abrir mão de princípios ou se render a soluções absurdas como políticas de cotas, intervenção no mercado de trabalho, criação de grandes estruturas estatais ou mesmo embutir nos currículos escolares uma pedagogia da confusão e do caos. Refiro-me a buscar maneiras de incentivar doações da iniciativa privada para colaborar —ou mesmo criar— instituições filantrópicas que, por exemplo, façam o acolhimento de jovens que foram para as ruas por conta de serem quem são e que ofereçam cursos de capacitação e oportunidades no mercado de trabalho para quem encontrou na prostituição a única maneira de satisfazer sua fome. 

Não se trata de criar privilégios, mas de demonstrar como a liberdade é o melhor caminho para criar oportunidades aos cambaleantes ou aos que já estão desistindo da estrada devido ao peso que carregam. 

Os LGBTs que têm se rendido à esquerda não o fazem necessariamente por conta dos ideais, mas porque ali encontram um abraço quando precisam; ali seu sofrimento é transformado em ódio e ali se tornam militantes fervorosos. Por isso, precisamos deixar claro aos LGBTs que não somos inimigos, que respeitamos suas liberdades e suas famílias. Contudo, precisamos demonstrar isso com ações. 

De minha parte, desenvolverei projetos nesse sentido na Câmara Municipal de São Paulo e no MBL (Movimento Brasil Livre), mesmo sabendo que pouco posso fazer sozinho. Mas, acima disso, buscarei usar o meu exemplo, de primeiro vereador abertamente gay de São Paulo, como forma de dar esperança e inspiração a outros LGBTs. 

Não fui eleito por conta da minha sexualidade —nem ela foi empecilho à minha eleição— porque, para liberais e conservadores, essa questão não importa, desde que tenhamos princípios. 

Isso é preciso ser dito cada vez mais alto, antes que as luzes continuem a se apagar e o futuro se vá, como na triste história que inspirou a música “Balada de Gisberta”.

Fernando Holiday

Vereador por São Paulo (Patriota), é membro do Movimento Brasil Livre e estudante de história

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