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Apenas um peão

Ameaça comercial ao Brasil escancara malogro do alinhamento irrefletido a Trump

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Jair Bolsonaro e Donald Trump, durante encontro na ONU - Alan Santos - 24.set.19/PR

Donald Trump promove conflito tecnológico, comercial e diplomático com a China, a outra grande potência mundial; cria atritos com os seus maiores aliados militares e diplomáticos, os europeus; espezinha os vizinhos e grandes parceiros comerciais Canadá e México. 

Nesse universo de desarranjos e hostilidades, a importância da política e da economia do Brasil é periférica. A recente ameaça americana de cobrar mais tarifas sobre o aço e o alumínio aqui produzidos parece, pois, mais um dano colateral das ofensivas de Trump.

O presidente americano não deve ter se dado ao trabalho de considerar que sua atitude protecionista pudesse ofender ou desmoralizar um congênere —Jair Bolsonaro— que tão sofregamente suplica um posto de aliado preferencial.

Mais importante, o republicano não teve escrúpulo de causar problemas para a economia brasileira. O caso torna explícito outro gargalo —a conduta do atual Itamaraty.

Se Brasil é ninharia no jogo político de Trump, a política de sacrifícios ou doações voluntárias em nome da conquista de uma suposta boa vontade americana torna-se ainda mais contraproducente, além de tristemente ridícula.

O país tem se isolado no cenário internacional, migrando para a ilha de democracias iliberais. Perde antigos aliados e posições formais e informais de prestígio e liderança ao se colocar em posição subordinada pueril e inconsequente em relação aos EUA e ao programa de uma internacional reacionária. 

Não parecem evidentes os objetivos pragmáticos de tais atitudes canhestras. Pelo contrário, acumulamos constrangimentos como a frustração da expectativa criada em torno de um apoio americano ao ingresso na OCDE.

Aço e alumínio representam cerca de 14% das exportações brasileiras para os EUA. Trata-se de menos de 2% das vendas do país. De imediato, não se vê grande dano, embora as empresas envolvidas e seus trabalhadores não possam dizer o mesmo. Mas se tornou razoável imaginar uma eventual ampliação dos ataques americanos.

Apesar de afirmações genéricas sobre abertura comercial, o governo não apresentou um plano palpável nesse sentido, o que causa incerteza em uma economia travada também pelo futuro nebuloso.

Pior, o líder que é modelo para Bolsonaro faz pouco do Brasil e descrê das vantagens do livre-comércio. Em tal cenário, não nos resta chance de uma reação altiva.

editoriais@grupofolha.com.br

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