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Diplomacia fóssil

Sem credibilidade nem novos recursos, Brasil sai menor de conferência ambiental

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Ambientalistas entregam prêmio Fóssil do Ano ao Brasil - Divulgação

Não foi sem um prêmio na mão que o Brasil deixou a COP-25, conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas realizada em Madrid —o de Fóssil do Ano.

A tradicional e nada gloriosa honraria, pela primeira vez concedida ao Brasil por uma rede que congrega mais de mil ONGs ambientalistas no mundo, consolida a imagem passada pela diplomacia brasileira em duas semanas de conferência.

Sem fechar um acordo sobre o mercado de emissão de carbono, a COP-25, acabou de modo pouco alentador. Contribuiu para tanto a obstrução do Brasil à carta final, após idas e vindas nas tratativas.

Madri viu um Itamaraty isolado. Representou o único país a defender que metas de redução de emissões não deveriam ser ajustadas descontando-se do cálculo os créditos de carbono vendidos a outros países. Ignora-se assim a matemática básica, permitindo a quem vende e a quem compra emitir carbono pelo mesmo crédito.

Tal insulamento contrasta com o protagonismo de 2015, quando o Brasil ajudou a viabilizar a conferência do clima em Paris. Agora, sob a batuta do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, esmolaram-se recursos em troca da desobstrução das negociações.

Até nesse ponto houve fracasso. Salles saiu de mãos abanando, embora tenha chegado ao evento antes dos demais ministros, esperados ao final dos entendimentos.

Ironicamente, prejudicou-se inclusive o agronegócio. Constrangidos, representantes brasileiros do setor não lograram agendas oficiais com países europeus. Já governadores da Amazônia Legal tiveram uma pauta de reuniões intensa.

Enquanto ocorria a COP-25, o governo acenava em sentido contrário ao interesse ambiental. Da fala infantil do presidente Jair Bolsonaro dirigida à jovem ativista Greta Thunberg à edição de uma medida provisória temerária sobre regularização fundiária, minou-se ainda mais a credibilidade do país nas negociações do clima.

A reduzida participação brasileira em Madri deu motivos de constrangimento. Na ausência inédita de um estande oficial, o vácuo deixado pela chefia de Estado foi ocupado pela atuação de representantes da sociedade civil —ONGs, empresas e universidades.

Eles fizeram de um estande brasileiro independente o palco de debates acalorados, com a presença até do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). De sua parte, Salles reuniu-se brevemente com ambientalistas e parlamentares.

A conferência há de ter ensinado que, para obter êxitos no âmbito global, o país precisa ser levado a sério. Mesmo uma diplomacia mais hábil teria grande dificuldade em reverter a péssima impressão deixada pelos atos domésticos.

editoriais@grupofolha.com.br

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