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Dólar e risco

Desta vez, alta da moeda americana não coincide com temor quanto à economia

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Fachada da sede do Banco Central, em Brasília - Marcello Casal Jr./Agência Brasil

A disparada da cotação do dólar em novembro, atingindo a máxima histórica de R$ 4,27, foi recebida por muitos como sinal de problemas na economia. O temor não deixa de ter fundamento, dado que as oscilações da moeda norte-americana com frequência serviram como termômetro da situação do país. 

O momento atual marca diferenças importantes, contudo. A desvalorização abrupta do real tem sido acompanhada por redução —e não alta— do chamado risco Brasil, que atingiu o menor patamar desde a crise financeira de 2008.

Hoje, alguém que queira se proteger de um calote do governo na dívida externa pagará 0,96% ao ano do montante investido. No final de 2015, quando aqui se combinavam recessão econômica e turbulência política, o custo era de 5%. 

A perspectiva de controle das despesas públicas tem papel decisivo na redução do risco, que em última instancia depende da percepção de solvência do Estado. A inscrição de um teto para os gastos federais na Constituição e a aprovação da reforma da Previdência provaram-se fundamentais.

Com alguma aceleração esperada da atividade econômica em 2020, a relação entre a dívida governamental e o Produto Interno Bruto deve se manter abaixo de 80% e começar a cair em dois ou três anos. Novas estimativas do Tesouro Nacional, divulgadas na semana passada, apontam para endividamento futuro menor que o previsto anteriormente. 

Por que, nesse contexto de melhora da confiança, o real permanece desvalorizado? Parte da resposta também pode ser encontrada na política econômica.

A taxa básica de juros, a Selic, só pôde cair a 4,5% ao ano, menor nível de sua história, devido à queda da pressão dos gastos públicos sobre a inflação —além, claro, do longo período de recessão seguida de estagnação do PIB. 

A queda dos juros, por sua vez, reduz a entrada de capital estrangeiro especulativo no país e, portanto, a oferta local de dólares. 

Assim, há um rearranjo em curso, com saída de US$ 40 bilhões nos últimos 12 meses, a maior desde 1999. No contexto geral, contudo, o alarme cambial se mostra enganoso, na medida em que coincide com a queda do risco Brasil.

O cenário é novo —e incerto. O ajuste fiscal está por ser consolidado; a insegurança no campo político, agravada pela ação errática do governo, talvez seja o principal fator a recomendar cautela.

editoriais@grupofolha.com.br

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