Descrição de chapéu

Febre cambial

Alta do dólar pode ser explicada ao menos em parte por transformações econômicas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Cédulas da divisa norte-americana - Jose Luis Gonzalez/Reuters

Em um país com histórico de reviravoltas na política econômica, não deixa de ser natural a busca por referências de estabilidade. No Brasil, altas abruptas na cotação do dólar frequentemente tendem a ser tomadas como sinalização de crise na economia. 

Foi assim nos últimos dias, com a rápida desvalorização do real, cuja cotação bateu sucessivos recordes ante o dólar e suscitou intervenções do Banco Central

Declarações desastradas de autoridades certamente contribuíram para tal comportamento. O ministro da Economia, Paulo Guedes, por exemplo, afirmou não estar preocupado com o patamar atual, que deve ser duradouro. Sua grotesca referência ao AI-5 da ditadura militar tampouco contribui para aumentar a confiança no país.

Ainda assim, cabe considerar se as oscilações da moeda sugerem problemas. Para tanto, a mera observação de preços pode não ser informativa. Basta dizer que o patamar atual, acima de R$ 4,20, embora nominalmente elevado, está  distante do recorde observado em 2002 corrigido pela inflação —próximo a R$ 7,5 por dólar. 

A desvalorização do real incentiva exportações, estimulando, de imediato, a atividade econômica. Por outro lado, o encarecimento dos equipamentos importados compromete o investimento. Mudanças nos preços de itens centrais da pauta comercial, como matérias-primas, também interferem. 

Já no mercado financeiro, o câmbio se comporta como um ativo sujeito aos humores dos investidores, que por vezes tendem a conferir caráter especulativo às cotações. É justamente esse efeito que o Banco Central busca combater com suas intervenções, além de levar em conta eventuais impactos secundários na inflação.

Nada disso constitui novidade. A mudança verdadeira se dá na política econômica. O cenário de austeridade fiscal e juros baixos, com a taxa do BC em 5% ao ano, altera o comportamento da moeda. 

Reduz-se, por exemplo, a atratividade de fluxos de curto prazo que se aproveitavam do diferencial de rentabilidade em relação ao restante do mundo, o que é bem-vindo.

Mudanças nas estatísticas, além disso, mostraram que o déficit externo brasileiro é bem maior que o estimado antes, mesmo com a economia ainda cambaleante. 

Tudo isso sugere que a cotação necessária para equilibrar os mercados pode mesmo ser mais alta. Sem que o país apresente problemas de financiamento externo, e dadas as altas reservas internacionais, a febre cambial não parece ser indicativa de doença mais grave.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.