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Benedito Braga

O dia em que o Cantareira não secou

Consumo racional e obras evitaram colapso do sistema

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Dia 26 de novembro de 2019, terça-feira. Esse foi o dia em que o sistema Cantareira, o maior conjunto de reservatórios de água para abastecimento da Grande São Paulo, poderia ter secado. Mas não secou.

Muita gente deve lembrar do “Bug do Milênio”, na virada de 1999 para 2000; do “apocalipse maia”, em 2012, e de outros tantos casos onde o catastrofismo e o sensacionalismo exploraram a boa-fé e o temor das pessoas. Talvez alguns lembrem que durante a crise hídrica, provocada por uma seca gravíssima em 2014-15, houve especialistas prevendo que o Cantareira viraria lama e nunca mais se recuperaria.

O presidente da Sabesp, Benedito Braga - Alan Marques - 13.out.15/Folhapress

Dois anos depois, em 2017, o Cantareira já atingia cerca de 70%. E, desde então, vem mantendo níveis seguros —nunca abaixo de 30%— mesmo com um período muito seco em 2018 e 2019.

Mas poderíamos ter atingido níveis próximos aos da crise hídrica e chegado ao zero do Cantareira no último dia 26 se não fosse por um conjunto de fatores como a adoção de um consumo mais racional da água pela população e as obras de infraestrutura realizadas para garantir a segurança hídrica. O consumo hoje é quase 10% menor do que o registrado antes da crise, indicação de que esse legado continua dando frutos.

No tocante à infraestrutura, as duas maiores obras são o sistema São Lourenço e a interligação Jaguari-Atibainha. Elas permitem trazer quase 12 mil litros de água por segundo de água de bacias hidrográficas vizinhas para a região metropolitana. Na ausência dessas obras, que trouxeram 374 bilhões de litros, o nível do Cantareira no dia 26 de novembro teria zerado. Para se ter uma ideia, esse volume trazido de água equivale a duas vezes a capacidade da represa Guarapiranga, outro importante sistema de abastecimento da região.

O São Lourenço foi inaugurado em abril de 2018 e conta com quase 80 km de tubulações, com até 2,10 metros de diâmetro, levando água da represa Cachoeira do França, em Ibiúna, até a estação de tratamento em Vargem Grande Paulista, subindo uma altura de mais de 330 metros na serra de Paranapiacaba. Foram investidos ali R$ 2,21 bilhões.

A Interligação Jaguari-Atibainha, entregue em março de 2018, conecta essas duas represas que se localizam em bacias diferentes: a primeira, na do rio Paraíba do Sul, e a outra, no próprio Cantareira, na do Piracicaba. Com um investimento de R$ 555 milhões, a obra beneficia tanto a Grande São Paulo quanto o Vale do Paraíba, pois permite o bombeamento de água nos dois sentidos, conforme a necessidade.

Outras obras foram feitas, como a instalação de válvulas de redução de pressão, o aperfeiçoamento do controle da água por setorização e a substituição de tubulações antigas para redução de perdas, além da modernização e maior interligação de sistemas de abastecimento, que ganharam flexibilidade, podendo atender mais de uma região. Com todas essas obras, a Grande São Paulo passou a contar com um sistema de abastecimento mais integrado, resiliente e com segurança hídrica para suprir 21 milhões de pessoas, mesmo em períodos críticos.

Há muitas coisas ainda a fazer para melhorar o saneamento em São Paulo. A Sabesp, na gestão João Doria (PSDB), está trabalhando duro: de 2019 a 2023, estará investindo em toda a área atendida pela companhia R$ 7,7 bilhões no abastecimento de água e quase R$ 11 bilhões na coleta e no tratamento de esgoto.

Diante das mudanças climáticas, que tornam as secas e cheias cada vez mais intensas, precisamos continuar nesse caminho, investindo na infraestrutura, melhorando a governança e estimulando o uso racional da água. Para que o Cantareira nunca mais seja motivo de preocupação, e sim a nossa grande fonte de vida, saúde e desenvolvimento econômico e social.

Benedito Braga

Presidente da Sabesp e presidente honorário do Conselho Mundial da Água

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