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Fernando Manuel Pinto

O modelo de divisão das cotas de TV para os clubes de futebol é adequado? SIM

Interessa ao detentor dos direitos exibir um torneio desigual?

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São frequentes os debates sobre a diferença nas cotas de TV dos clubes brasileiros, assunto relevante, que suscita comparações com mercados internacionais, mas que não é de simples diagnóstico e solução. 

O quadro nacional é atípico. Há diversos fatores que, aplicados em conjunto e de forma continuada, levaram a isso: venda individualizada dos direitos da principal competição, a Série A; outros campeonatos nacionais e internacionais, negociados de forma coletiva e distribuindo altos recursos da TV na forma de premiação; e as competições estaduais, onde naturalmente o ganho econômico dos clubes diferencia-se pelo potencial comercial de cada região e torneio.

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Fernando Manuel Pinto, diretor de Direitos e Relacionamento com Futebol da Globo - Ricardo Borges - 27.abr.18/Folhapress

E as cotas atuais do Brasileirão Série A? Em 2016, em meio a maior concorrência já ocorrida por direitos da Série A, a resposta da Globo foi um novo formato de contratação, atendendo a anseios dos clubes, que batizamos de “Novo Modelo 2019-24”.

Chegamos a acordos individuais com 37 clubes, mas que levam, pela primeira vez, a um formato coletivo e disponível a todos, onde critérios ligados a equilíbrio e meritocracia é que determinam a remuneração de cada clube na Série A, em vez dos valores predeterminados do formato anterior, vigente até 2018 e com apenas 18 clubes sob acordos plurianuais. Esse processo funcionou como “unir o útil a o agradável”: a abordagem foi capaz de promover um modelo coletivo para os clubes.

Na prática, dois terços do total pago pela Globo são distribuídos seguindo práticas internacionais: critérios de igualdade (40% do montante) e de meritocracia esportiva e comercial (30% proporcional ao número de jogos exibidos de cada clube, e não importa a audiência em si; e 30% pela posição final do clube no campeonato, em formato no qual o primeiro colocado recebe apenas três vezes mais do que o 16º lugar). Distâncias encurtadas!

O restante, estimado em um terço do total investido na Série A, refere-se ao pay-per-view (PPV/OTT), em modelo raro no mundo, benéfico ao futebol por gerar receitas extras e variáveis para os clubes —que recebem um percentual das assinaturas— e se conectar aos torcedores com ampla entrega de jogos.

É sabido que a parcela da receita de PPV/OTT ainda é diferente entre os times. Clubes mais populares e/ou com performance esportiva e de marketing de maior destaque tendem a vender mais e, neste formato, recebem maiores receitas do que outros clubes, tal qual se verifica em negócios como sócio-torcedor e bilheteria. Meritocracia comercial.

Fato é que, pela possibilidade de individualização de resultados, alguns clubes miraram ali, avaliando as opções diante da disputa pelos direitos, diferenciais que o restante do modelo não acomodaria. Quando clubes atuam individualmente é natural que essa dinâmica de mercado crie espaço para diferenciações.

Afinal, qual interesse teria um detentor de direitos em exibir uma competição desequilibrada, com apenas algumas equipes fortes?

Alguns defendem ainda que essa —agora menor— diferenciação da cota de TV seria a principal razão para o sucesso esportivo de determinados clubes. Uma afirmação difícil de sustentar ao vermos campanhas e performances tão diferentes de clubes que recebem valores próximos.

O “Novo Modelo 2019-24” jamais teve pretensão de ser perfeito, seria impossível diante dos enormes desafios. Miramos um grande passo! Aprimoramentos, a partir de agora, dependem do reconhecimento dos avanços conquistados e, sobretudo, dos passos que a partir deles podem ser dados. Essa é uma agenda das mais importantes para o futebol brasileiro.

Fernando Manuel Pinto

Diretor de Direitos e Relacionamento com Futebol da TV Globo

TENDÊNCIAS / DEBATES

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