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O naufrágio de Crivella

Prefeito do Rio ruma a final de mandato em derrocada política e administrativa

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O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, no jardim do Palácio da Cidade, sede do governo municipal - Marcos de Paula/Prefeitura do Rio

A administração do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), está longe de merecer as bênçãos dos cariocas. Como mostrou pesquisa do Datafolha, o ex-senador e ex-ministro da Pesca do governo Dilma Rousseff (PT) é rejeitado por 72% da população.

Os desacertos do alcaide vão desde violações autoritárias à Constituição, com vistas a censurar manifestações que não se coadunam com seu moralismo tacanho, até demonstrações de inépcia no trato dos recursos públicos.

No primeiro caso, ficou tristemente famosa a grotesca tentativa de recolhimento de uma HQ com a imagem de um beijo gay, na Bienal do Livro, em setembro. Mais recentemente, houve o veto à presença de jornalistas do grupo Globo a entrevistas na prefeitura, felizmente derrubado pela Justiça

No campo das finanças públicas, o desastre consumou-se de maneira estrondosa com a suspensão dos pagamentos do município, determinada na segunda-feira e publicada no Diário Oficial da terça (17).

O objetivo da drástica decisão, segundo a prefeitura, seria proteger o caixa da cidade dos “arrestos determinados pela Justiça do Trabalho para pagamento de salários atrasados de funcionários terceirizados da saúde municipal”.

O quadro é calamitoso. Funcionários sem receber, saúde paralisada por falta de recursos, pagamentos a fornecedores em atraso, cobranças judiciais em curso. O caos que anos atrás havia se instaurado em âmbito estadual atinge agora a esfera municipal.

Diante das restrições por que passam as finanças públicas no país e considerando a perda de condições políticas por parte de Crivella, é difícil nutrir algum otimismo quanto a soluções próximas. 

O cenário ruinoso deixa o prefeito com chances nebulosas na disputa eleitoral de 2020. Segundo o Datafolha, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), com 22% das intenções de voto, e Marcelo Freixo (PSOL), com 18%, sãos os atuais favoritos. O alcaide, cuja gestão recebe a nota média de 2,6, não consegue mais que 9% das intenções.

Crivella é exemplo da crescente influência de políticos religiosos na vida pública brasileira. A condição de bispo licenciado da Igreja Universal e estrela da música gospel decerto favoreceu sua ascensão na vida pública —não o bastante, como se vê, para evitar seu naufrágio administrativo.

editoriais@grupofolha.com.br

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