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João Augusto Palhares Neto

Os camaleões brasileiros

Após bonança, classe C reduz gastos e busca crédito

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Em meio a um cenário de crises políticas constantes e de incerteza econômica, a classe C desponta com otimismo em relação ao futuro quando o assunto é o próprio bolso. 

O dado é parte de um estudo inédito lançado pelo Instituto Data Popular com foco na classe C e que pretende mapear de forma mais efetiva os hábitos e a opinião deste que representa o maior segmento da população brasileira.

João Augusto Palhares Neto - Sócio-fundador do Instituto Data Popular
João Augusto Palhares Neto, sócio-fundador do Instituto Data Popular - Divulgação

Estamos falando de um cidadão que, para além de representar o perfil da maior parte do Brasil, tem poder decisivo de voto e, principalmente, de consumo. Essa parcela da sociedade, que cresceu e aproveitou o período de maior prosperidade econômica do país, agora intensifica sua relação com instituições financeiras em busca de crédito e reduz o padrão de vida para adequar o seu orçamento. 

Acontece que, se por um lado os brasileiros da classe C não acreditam numa recuperação da economia a curto prazo (62%), por outro mantêm uma dose de pensamento positivo projetada na direção de sua própria renda (53%). Isso se explica pelo fato de que essa camada da sociedade atribui a si própria a responsabilidade dessa melhora, com a busca de mais oportunidades de geração de renda, jornadas duplas e até dos chamados “bicos”.

Os números vão além e reforçam que a classe C é capaz de movimentar a economia e eleger os representantes do país. De forma silenciosa, como um “camaleão”, é capaz de se adaptar aos diferentes “ecossistemas” e, por isso, mesmo tendo perdido a confiança (ou aumentado a desconfiança) nos políticos e empresários brasileiros, não viu abalada a sua capacidade de reverter a própria situação financeira. O dado é ainda mais relevante se observarmos o fato de que 30% afirmam não terem aferido qualquer renda nos últimos meses.

A desconfiança nos Três Poderes reforça ainda a ideia de que para eles a corrupção segue disseminada (90% acreditam na existência dela em alguma das esferas de poder). Por isso, ações como a Operação Lava Jato recebem apoio da maioria, que defende sua continuidade (74%). Por outro lado, grande parte acredita que a força-tarefa, apesar de necessária, teve consequências prejudiciais para a economia (43%), além de ter sido usada por muitas autoridades para perseguição aos adversários políticos (37%). 

Mesmo com adversidades financeiras, que forçaram 64% dos entrevistados a cortar despesas e adquirir produtos mais baratos nos últimos seis meses, a maioria (66%) zela pelo nome ao revelar que nunca foi negativada. Estamos falando de uma parcela da sociedade altamente conectada (69% possuem smartphones) e usuária ativa das redes sociais —e que, portanto, consome e dissemina informação, notícias e conteúdo. Se considerarmos a relação com a internet, 7 em cada 10 possuem um pacote de dados (71%), o que possibilita maior interação nas redes. 

O contato com o mundo virtual pode ser constatado nas ruas, no transporte público ou nas salas de espera, por exemplo. As redes são utilizadas também para discutir assuntos que estão em pauta no dia a dia e para participar de debates por meio do WhatsApp, aplicativo de mensagens utilizado por 8 a cada 10 pessoas entrevistadas (84%).

É com este objetivo que o Data Popular, instituto com 17 anos de atuação no mercado de pesquisas, criou o Data Check-up Brasil - Classe C. O levantamento, que teve a primeira etapa concluída recentemente, oferece a possibilidade de dar voz às opiniões desta, que apesar de ser a maior entre as classes socioeconômicas, é pouco ouvida no país, seja do ponto de vista mercadológico como nas questões das políticas públicas.

Entender a classe C é fundamental para uma leitura mais concreta do Brasil de verdade e, sobremaneira, para uma compreensão mais fidedigna de como a maior parte dos brasileiros enfrenta as crises econômicas. O protagonismo desses 51% de brasileiros é crescente. Mais: a possibilidade de recuperação da economia deve começar pela classe C —e, por isso, passou da hora de começarmos a observá-la melhor.

João Augusto Palhares Neto

Sócio-fundador do Instituto Data Popular

TENDÊNCIAS / DEBATES

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