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Anna L. Ribeiro, Daniela Libório, Daniella Meggiolaro e Isabela G. Del Monde

Rumos para a equidade de gênero na imprensa

Mulheres da advocacia devem ser consultadas

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Em visita a esta Folha pedimos uma reunião com a Direção de Redação para tratar de tema que tanto atinge as mulheres: a invisibilização no mercado de trabalho. Médicas, economistas, cientistas, engenheiras e tantas outras profissionais sofrem constante apagamento em suas áreas de atuação, reflexo do machismo estrutural

No meio jurídico, especificamente, não são poucos os casos de falta de visibilidade das mulheres que hoje representam grande parte da advocacia, composta por profissionais extremamente dedicadas, competentes, algumas delas liderando importantes escritórios e os mais relevantes departamentos jurídicos. 

A advogada criminalista Daniella Meggiolaro, sócia de Malheiros Filho, Meggiolaro e Prado Advogados e vice-presidente do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) - Mathilde Missioneiro - 11.set.19/Folhapress

Segundo dados atuais do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, 581.328 são advogadas e 592.194 são advogados. Mesmo diante dessa ostensiva paridade numérica, é impossível falarmos em equidade sob qualquer aspecto no exercício da advocacia brasileira.

A questão de gênero é tão presente no universo jurídico que rendeu a criação do livro “Interações de Gênero nas Salas de Aula da Faculdade de Direito da USP: um Currículo Oculto?”, de coordenação da professora Sheila Neder Cerezetti, do Departamento de Direito Comercial da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, a partir da demanda de alunas que relataram a ela que não se sentiam confortáveis para participar das aulas como os alunos homens e, quando participavam, percebiam que não eram ouvidas. 

O reflexo disso é que, nessa mesma histórica faculdade —quase 200 anos após sua criação—, uma de suas salas foi homenageada apenas em 2019 com o nome de uma mulher, a professora Ada Pellegrini Grinover

A imprensa, como qualquer outra instituição, também é produto e produção de estruturas sociais e, por vezes, acaba reproduzindo comportamentos que reforçam estereótipos que não correspondem mais à realidade. Um advogado não é só aquele senhor de cabelos brancos atrás da mesa de mogno em sua cadeira de couro. A advocacia está cada vez mais diversa, e é urgente que isso seja refletido em espaços variados. 

Nosso encontro pretendia, portanto, estabelecer um vínculo entre o veículo e a demanda por reconhecimento das mulheres da advocacia e do direito. 

O pontapé inicial do rompimento do clássico círculo vicioso que apenas visibiliza e prestigia homens cisgêneros, brancos, héteros, de meia-idade e que moram em regiões metropolitanas para a criação de um círculo virtuoso do reconhecimento do valor da diversidade foi a entrega, pelas subscritoras deste artigo, de uma lista composta por 153 nomes de advogadas, das mais variadas áreas de atuação, cidades e raças, para serem consultadas pela Redação como especialistas técnicas. 

Essa lista foi idealizada, criada e produzida em apenas seis dias a partir da organização espontânea e informal de juristas que acionaram suas redes e parceiras de profissão, comprovando o que já imaginávamos: não há ausência de mulheres especialistas, mas sim a naturalização da sua não escuta para assuntos como política e economia, por exemplo. 

Mulheres da advocacia —e das demais carreiras jurídicas— produzem conhecimento, realizam trabalhos em todos os segmentos e devem ser consultadas. Não queremos e não vamos ficar circunscritas apenas às pautas típicas femininas, como violência doméstica e assédio; podemos falar de tributos, imóveis, cidades, direito digital, publicidade, direito penal, arbitragem e mercado financeiro, entre outros tantos temas; podemos comentar sobre julgamentos de destaque que ocorrem nos tribunais do país; podemos fazer análise da conjuntura política. 

Esperamos que a imprensa, a partir dessa lista e demais diversas proposições sobre equidade de gênero, impacte o presente e o futuro de milhões de meninas e mulheres que passarão a se ver representadas e, portanto, um pouco mais livres para sonharem em ser o que quiserem. 


A reformulação de velhas práticas abre espaço para um futuro mais inclusivo, criativo e democrático.

Anna Lyvia Ribeiro
Advogada de direito imobiliário
Daniela Libório
Advogada de direito urbanístico
Daniella Meggiolaro
Advogada criminalista
Isabela Guimarães Del Monde
Advogada de direito digital e publicitário

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