Em um ano de governo Bolsonaro, já é possível organizar uma antologia das melhores performances artísticas de sua equipe.
Damares saiu na frente ao convocar uma entrevista coletiva e ficar em silêncio por um minuto. A artista, digo, ministra, pretendia discutir o "silêncio das mulheres" com a performance. Roberto Alvim acirrou a disputa ao encenar o discurso de Goebbels com trilha sonora de Wagner.
Faltou alguém informar ao então secretário que o artista alemão Joseph Beuys já utilizara o discurso do mestre nazi há quase 50 anos, maculando seu ineditismo. Beuys, diferente de Alvim, explodiu um piano enquanto alto-falantes repetiam Goebbels dizendo "querem a guerra total?".
Mas voltando à antologia, quem não se lembra de Weintraub dizendo "está chovendo fake news!" enquanto dançava com o guarda-chuva ao som de "Singin' in the Rain"? Ou de Ricardo Salles posando de colete nas praias sujas do Nordeste, estetizando o desastre à la Nana Gouvêa, como lembrou um amigo?
Ainda assim, ninguém supera o próprio presidente quando o assunto é construir uma estética própria. Entre tantos exemplos, há a coletiva de imprensa em cima da prancha de surfe, o café da manhã regado a pão com leite condensado, além do clássico par de chinelos. Ao invés de espontâneo, Bolsonaro é ávido em construir seu próprio "self-design".
O governo institui assim uma nova categoria, a de político como Artista com A maiúsculo. O político se torna o produtor de imagens por excelência, mas, no lugar de uma prática artística que investigue outros modos de habitar o mundo, oferece uma versão pastiche e perversa.
Seu Prêmio Nacional das Artes poderia ser disputado pela própria equipe, o que seria um desafio para o júri. Ao que tudo indica, Regina Duarte vai ter que se esforçar para acompanhar o time.
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