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Maria Teresa Fornea

A masculinidade tóxica no mundo dos negócios

O líder que adota essa postura pode ficar obsoleto

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Maria Teresa Fornea

Como mulher e empreendedora, tenho refletido com várias pessoas e em diferentes contextos sobre a questão da masculinidade tóxica. Por ter se tornado um assunto recorrente em minha vida, fiquei surpresa quando li recentemente os dados da pesquisa “A Nova Masculinidade e os Homens Brasileiros”, realizada pelo Google. Ela mostra que esse termo ainda é pouco familiar entre os homens de 25 a 44 anos: apenas um em cada quatro já ouviu falar nesse conceito.

Masculinidade tóxica nada mais é do que um padrão de comportamento enraizado por muitas gerações. É a ideia de que homem de verdade é aquele que esconde suas emoções, que não pode se mostrar vulnerável, que possui um jeito mais duro, agressivo e competitivo.

Maria Teresa Fornea - Presidente e fundadora da Bcredi, fintech de crédito com garantia de imóvel e financiamento imobiliário
A empresária Maria Teresa Fornea, presidente da Bcredi - Divulgação

A crença nesses padrões de masculinidade não só definiu o comportamento da maior parte dos homens que conhecemos hoje como fez muitas mulheres no mercado de trabalho também adotarem essa postura para competir em pé de igualdade com seus pares.

No entanto, acredito que o mundo e as pessoas estão mudando rápido e, para prosperar nesse novo ambiente, as empresas precisarão rever a maneira de trabalhar e de lidar com todos os seus “stakeholders” (fornecedores, acionistas, clientes e o ambiente onde atuam). 

Para alcançar as novas métricas de sucesso —como retenção e satisfação de clientes e atração dos melhores talentos— será fundamental cultivar habilidades de relacionamento, exercitar a empatia, demonstrar cuidado com o outro e ter transparência. São características geralmente mais associadas ao feminino, mas que podem ser desenvolvidas por qualquer ser humano. Arrisco dizer que líderes que não olharem para sua própria masculinidade tóxica poderão ficar obsoletos. 

Uma reportagem recente sobre masculinidade tóxica citava um estudo da Penn State University (EUA) que reforça a necessidade de reavaliar esses padrões. Com base em uma pesquisa feita com 960 pessoas, os autores descobriram que parte dos homens estava menos disposta a fazer tarefas como desligar o ar-condicionado e separar o lixo reciclável por estarem associadas a comportamentos femininos. Mas será que, no século 21, faz sentido evitar atividades que protegerão o planeta simplesmente porque isso fere o estereótipo da masculinidade?

Se por um lado muita gente desconhece o conceito de masculinidade tóxica, por outro a taxa de busca do Google por essas palavras-chaves tem crescido consideravelmente no Brasil. Além disso, quem ouve falar geralmente quer saber mais.

 

Para nos adaptarmos a um mundo em transformação, precisamos estar dispostos a aprender diariamente e a desconstruir conceitos enraizados. Muitas vezes focamos apenas nos conhecimentos técnicos, mas o desenvolvimento dos profissionais e, principalmente, das novas lideranças, irá muito além do aprendizado formal e do crescimento de carreira. Estará também atrelado à evolução pessoal —à tentativa de ser uma pessoa melhor a cada dia. 

Em busca desse desenvolvimento também pessoal, tenho conversas francas com executivos não só sobre o desempenho técnico, mas sobre a postura das pessoas, valorizando o olhar para dentro e respeitando o conceito de vulnerabilidade, de sermos capazes de admitir quando erramos. E tento disseminar esse valor na empresa.

A segunda via é empoderar quem está mais alinhado com esse novo comportamento. Com uma carreira construída no mercado financeiro, sei que este ainda é um ambiente muito dominado por homens acostumados com a rigidez nas relações e um jeito mais duro e agressivo. Tenho acompanhado alguns casos de gestores ou lideranças que, percebendo que não será tão simples mudar sua forma de agir, estão optando por abrir mão de todo o controle e delegar algumas decisões.

Eu sei o quanto é difícil mudar padrões porque também vivo essa desconstrução, já que, também influenciada em minha trajetória profissional, muitas vezes me vejo agindo de maneira mais dominante, com foco no racional. Nessas horas, colocar as fragilidades, medos e dificuldades na mesa e reconhecê-las, ao invés de ignorar sua existência, é mais um passo no desenvolvimento pessoal que pode gerar vantagens competitivas no mundo empresarial.

Maria Teresa Fornea

Presidente e fundadora da Bcredi, fintech de crédito do setor imobiliário

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