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Sergio Volk

A vaca pode ir para o brejo

Preço da carne dependerá da ação dos pecuaristas

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A peste suína africana na China atingiu cerca de 40% do plantel de 440 milhões de cabeças. Os chineses são os maiores consumidores de carne de porco do mundo —e este fato redesenhou a cadeia global de oferta de alimentos e resultou no aumento de preços da carne bovina no Brasil.

Nosso presidente, Jair Bolsonaro, lançou a ideia de expandir a pecuária em terras indígenas para baratear o produto. É bom frisar que os mercados agrícolas, bem como o de pecuária, sofrem um efeito de hiato de tempo entre as decisões de oferta e procura, uma vez que há uma defasagem entre o plantio e a colheita, no caso de produtos agrícolas, e entre a gestação, engorda e abate do gado, no caso da pecuária.

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Com a alta no preço das carnes, restaurante de espetinhos na zona leste de São Paulo teve que atualizar o cardápio para não ter prejuízo - Bruno Santos - 12.dez.19/Folhapress

Na realidade, a produção de qualquer bem não é imediata —a previsão de preço tem que levar em conta esse tempo de retardo. Se demorar dois anos e nove meses, no mínimo, para abater o gado (gestação, cria, recria e terminação), e houver excesso de demanda para esse produto, então, durante esse ano, os preços continuarão a subir. Em seguida, se a produção é aumentada para atender a essa demanda, os níveis de preços, por sua vez, vão cair abaixo do nível do qual eles começaram. 

No segundo momento, os níveis de produção vão cair de volta. Em resposta a essa sucessão de eventos, o abastecimento irá diminuir mais uma vez, e eventualmente retornará o equilíbrio entre oferta e demanda.
Quem manda no mercado de boi é a vaca —ou seja, o que o pecuarista faz com a sua matriz é que determina qual vai ser o comportamento dos preços.

O produtor rural tenta prever a relação entre os preços e os níveis de oferta e demanda. Ele leva em consideração que não há uma resposta imediata entre oferta e demanda porque ocorre uma defasagem para o tempo de produção. Com essa defasagem, o equilíbrio entre os níveis de oferta e demanda e o preço do produto podem ser difíceis de alcançar.

Esse padrão de demanda e oferta é chamado modelo de teia de aranha. Muitas teorias econômicas baseiam-se na simples lei da oferta e da procura e como respondem a níveis de preços. Se o fornecimento de um determinado produto cair, então é lógico que a demanda será grande —e o preço do produto subirá. 

Por outro lado, excesso de oferta de um produto irá diminuir a demanda e fazer o preço cair. O modelo de teia de aranha descreve a oferta e a procura cíclicas num mercado em que a quantidade produzida deve ser escolhida antes que os preços sejam observados.

Houve períodos em que o preço da carne bovina ficou tão baixo que fêmeas foram abatidas para reduzir a oferta de bezerros e, assim, recompor o caixa do pecuarista. Espero que isso não aconteça de novo para a vaca não ir para o brejo.

Sergio Volk

Economista e mestre em contabilidade, finanças e auditoria, é especialista em gestão empresarial

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