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Águas turvas

Situação do abastecimento hídrico no Rio revela urgência sobre novas regras para o setor

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Diferença na coloração da água que sai das torneiras no Rio - Saulo Angelo/AM Press & Images/Folhapress

Já faz mais de duas semanas que moradores da região metropolitana do Rio veem verter das torneiras de suas casas não o líquido incolor, inodoro e insípido de sempre, mas outro, de aspecto ferruginoso, com cheiro e gosto de terra.

Disseminado, o problema de abastecimento de água afetou, até o momento, ao menos 69 bairros da capital, além de seis municípios da Baixada Fluminense.

A Cedae, empresa estadual de saneamento, afirma que as alterações se devem à presença, nos mananciais, da geosmina, substância orgânica produzida pela proliferação de algas e bactérias, e que não há risco para a saúde humana.

A explicação, contudo, não esclarece de todo a questão, pois, como a própria companhia reconhece, a geosmina é capaz de modificar o gosto e o cheiro da água, mas não seria a responsável pela turbidez observada em diversos locais. 

Em pronunciamento, o presidente da Cedae, Hélio Cabral, pediu desculpas à população e declarou que a situação voltará à normalidade em breve, sem, contudo, fixar um prazo para tanto.

Ele anunciou também a compra de um equipamento que utiliza carvão ativado para retirar a substância orgânica que estaria causando as alterações. Faltou explicar, porém, por que o Rio, que já enfrentou esse problema antes, ainda não dispunha de tal aparelho, a exemplo de outros locais em que a geosmina é encontrada.

Além dos transtornos que vem causando à população, a crise hídrica escancara a ineficiência da empresa pública de saneamento fluminense. Com apenas 46% do esgoto tratado, a cidade do Rio de Janeiro ocupa, no ranking de saneamento do Instituto Trata Brasil, a pouco honrosa 51ª posição entre os 100 maiores municípios do país.

Como se isso não bastasse, estudo da Fundação Getulio Vargas mostrou que nada menos que 98% dos contratos da Cedae com a capital fluminense carecem de metas de prestação de serviços.

Esse é um dos problemas que o novo marco regulatório do saneamento busca resolver, ao estabelecer padrões que devem balizar as novas concessões, que passarão a contar com a participação de empresas privadas, entre outras modernizações necessárias ao setor.

Depois de ter sido votado pela Câmara no final do ano passado, o diploma, em discussão desde 2018, encontra-se no Senado, de onde se espera que seja analisado com a urgência que o tema demanda.

editoriais@grupofolha.com.br

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