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Alta tensão

Ataque dos EUA resulta em morte de general do Irã e dá novo patamar a conflito

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Manifestantes protestam em Teerã contra a morte do general iraniano Qassim Suleimani - Ahmad Halabisaz/Xinhua

O ataque ordenado pelo presidente americano, Donald Trump, que resultou na morte do general Qassim Suleimani, o grande comandante de operações militares e de inteligência do Irã no exterior, elevou a temperatura do cenário de hostilidades e tensões que já se observava no Oriente Médio.

Os Estados Unidos e seus aliados, entre os quais Israel e Arábia Saudita, travam uma guerra não declarada, mas visível, contra as tentativas iranianas de expandir sua influência na região.

Nos últimos anos, o país persa apoiou milícias e partidos antiamericanos no Iraque, defendeu o ditador Bashar al-Assad na guerra civil síria e sustentou os houthis contra os sauditas no Iêmen —além de patrocinar o grupo Hezbollah, partido político e braço armado do Líbano, inimigo de Israel.

O acirramento dos conflitos subiu de patamar a partir de maio de 2018, quando o governo Trump formalizou o abandono do acordo, na prática pouco eficiente, que havia sido firmado com o Irã e potências europeias para conter o programa nuclear daquele país.

Mais recentemente, o ataque de drones, perpetrado em setembro, contra instalações petrolíferas da Aramco, na Arábia Saudita, soou como ameaça perturbadora para americanos e israelenses.

O cinematográfico atentado contra Suleimani, também com o uso de drones, representou uma mudança de grau —e foi classificado de terrorismo pelo Irã.

Trata-se, afinal, de autoridade de um Estado constituído e reconhecido internacionalmente, à diferença de Bin Laden, por exemplo, notório líder de facção terrorista.

Promessas de vingança por parte das autoridades iranianas não devem ser minimizadas, bem como repercussões negativas nos mercados e nos humores globais. Deve-se evitar alarmismo maior, contudo.

Para Trump e o premiê isralense, Binyamin Netanyahu, o agravamento da contenda contra o Irã poderá ter um aspecto favorável.

Alvo de um processo de impeachment no ano em que disputa a reeleição, o republicano pode transformar a adversidade em apoio nacionalista. Netanyahu, por sua vez, tem a oportunidade de desviar as atenções dos escândalos de corrupção em que se vê envolvido.

É cedo para avaliar as consequências políticas e econômicas, embora nada, obviamente, indique que possam ser benéficas para o mundo. A tendência é que se crispem as relações entre os EUA e seus adversários —como Rússia, China e Coreia do Norte, além do Irã.

Ao governo brasileiro cabe por ora evitar posicionamentos desnecessários com base em simpatias ideológicas. O presidente Jair Bolsonaro, infelizmente, precipitou-se em apoiar a ofensiva de Trump.

editoriais@grupofolha.com.br

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