Descrição de chapéu

Coalas calcinados

Incêndios na Austrália reforçam previsões sobre efeitos do aquecimento global

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Vista aérea de área incendiada na Austrália - Bai Xuefei/Xinhua

A evidência mais eloquente sobre o porte dos incêndios florestais na Austrália aparece com a fumaça gerada, que chegou à América do Sul. O fumo percorreu 12 mil km, a 6.000 metros de altitude, e não deve originar danos à saúde de sul-americanos —só propiciar-lhes pores do sol mais vermelhos.

Uma reprise, talvez, dos espetáculos atmosféricos de 1991 após a erupção do vulcão Pinatubo, nas Filipinas. Mas com causas e consequências mais alarmantes: o presente desastre foi agravado pelo homem, com grave prejuízo para a população e a fauna australianas.

Estima-se que meio bilhão de animais pereceram no sinistro iniciado em setembro. As chamas já calcinaram mais de 80 mil km2, área quase do tamanho de Portugal.

Mortos se contam na casa de três dezenas. Milhares se refugiam em praias para escapar das chamas. Cerca de 2.000 casas foram destruídas. O governo montou a maior operação militar de resgate da história e criou um fundo de R$ 5,7 bilhões para reparações.

Incêndios são um traço característico das florestas e savanas da Austrália, nas quais vicejam espécies adaptadas ao fogo. Nestes quatro meses, contudo, ultrapassaram-se todos os registros conhecidos.

A temporada inflamável veio agravada por seca extrema, recordes de temperatura e ventos incomumente fortes e em várias direções. Especialistas indicam que a explicação mais provável se encaixa na emergência climática criada pelo aquecimento global, em consequência da queima de combustíveis fósseis, principalmente.

Comparar as queimadas australianas com as recentes na Amazônia, como vêm fazendo o presidente e alguns ministros brasileiros, constitui disparate. Nossa floresta é chuvosa, muito difícil de incendiar, e só se emprega o fogo na região para eliminar pragas de pastos ou livrar-se de detritos.

Por ironia, o maior país da Oceania tem no governo um notório adversário da noção de mudança climática causada pelo homem. Assim como Jair Bolsonaro, o primeiro-ministro Scott Morrison nega que o aquecimento da atmosfera seja um problema, mas já colhe prejuízos políticos na esteira do desastre que tentou minimizar.

Tudo indica que acabará entrando para a história como um dos responsáveis pelas terríveis imagens de coalas e cangurus imolados, que já rivalizam com as de ursos polares famintos como ícones da crise do clima.

editoriais@grupofolha.com.br

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