Quase todos os governantes brasileiros sabem quem é Bill Gates. Ao menos são capazes de balbuciar se tratar de um dos homens mais ricos do mundo.
O documentário “O Código Bill Gates”, direção de Davis Guggenheim, na Netflix, mostra a segunda revolução a ser provocada por essa figura heráldica —e polêmica. Depois de demonstrar na prática que o software é mais importante do que o hardware, Gates agora conseguiu colocar em linha de produção (com uma empresa chinesa, em novembro passado) um vaso sanitário que prescinde de fossa (ou esgoto, ou cano) e litros de água.
No vaso, o cidadão fará ali suas necessidades. Cocô e xixi serão trabalhados por processos químicos —a urina virará pó (pode ser usado como fertilizante, dado seu potencial em vitaminas) e as fezes se transformam em energia. Uma família de cinco pessoas bem alimentadas gera uma massa diária (no vaso) capaz de recarregar seus celulares.
O modelo do atual vaso sanitário, com o uso intensivo de água e necessidade de uma rede de esgoto, e depois reprocessamento, é artefato consolidado no final do século 18. Mais da metade da população mundial vive sem saneamento básico. Com mais um agravante: estima-se que 30% da água consumida pelos americanos seja gasta apenas em seus vasos sanitários.
Sabendo que a água é um dos bens humanos mais disputados, só essa economia inicial já é um alento. Sem falar no número de vidas a serem poupadas. O vaso de Gates, hoje, atende a 25% da população de Dakar.
A patente do vaso sanitário dará à Fundação Bill e Melinda Gates, seus financiadores, milhões de dólares nas próximas décadas.
Em setembro último, antes de saudar a morte de nove jovens pobres pela sua eficiente polícia, o governador João Doria (PSDB) anunciou a ampliação de mais uma fábrica de automóveis no Brasil, desta vez a Toyota. Para ganhar esse negócio, o governo paulista dará incentivos fiscais. O investimento de R$ 1 bilhão —juram os envolvidos— gerará 300 novos empregos diretos.
Em 2018, a Qualcomm anunciou —também em São Paulo, sob o governo Márcio França (PSB)— a construção de uma fábrica de semicondutores e chips para smartphones e a internet das coisas. Serão US$ 200 milhões e deve empregar 800 pessoas. Por meio de um centro por ela financiado, a empresa pretende discutir com os municípios a implantação de soluções de cidades inteligentes. O centro será criado junto com universidades. É troca de tecnologia, e sem subsídio.
Dias atrás, o Porto Digital de Recife veio a público com um alarme: possui mil vagas para programadores —e faltam profissionais habilitados para preenchê-las. A tendência é piorar o quadro.
Pesquisas de empresas multinacionais trazem um registro dramático: o brasileiro gasta um dia para produzir o equivalente a um americano em cinco horas (o alemão, em seis; o chinês, em oito).
Onde está o futuro? A produção de automóveis, por ser robotizada, emprega cada vez menos (além de essas multinacionais não trocarem tecnologia nem para a maçaneta). João Doria, o Witzel com botox, revive a síndrome do prefeito de interior em busca do arcaico distrito industrial. Um paralelo, coitado: Doria briga pela fábrica de chicotes e ignora o motor a vapor.
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