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Facção imobiliária

Repetindo degradação fluminense, organização criminosa em SP lucra com invasões

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Ocupação à beira da represa Guarapiranga em área de manancial - Danilo Verpa/Folhapress

Tem longa história, na Grande São Paulo, a omissão do poder público diante dos loteamentos clandestinos que proliferam pelas periferias dos municípios, não raro acompanhados de extorsão dos compradores de terrenos irregulares em áreas de mananciais. Tudo, porém, sempre pode piorar com o tempo.

O processo de especulação imobiliária muito contribuiu para fazer fortunas de cabos eleitorais e carreiras de alguns vereadores. Numa derivação perversa, o lucrativo negócio entrou no escopo de atividades da facção criminosa que predomina no estado.

Como noticiou esta Folha domingo (12), invasões por ela patrocinadas incluem prédios de habitação popular construídos pelo governo paulista e terrenos que deveriam ter proteção ambiental para garantir a reposição de lençóis freáticos e represas.

Não bastasse o esbulho de patrimônio público e a perda de serviços ecológicos cruciais para a metrópole sob estresse hídrico, a investida facciosa acarreta crescente insegurança e espoliação de populações pobres em bairros distantes.

Além de preços abusivos cobrados por imóveis sob posse precária, os quadrilheiros exigem o pagamento de taxas de proteção aos moradores e comerciantes.

A administração do governador João Doria (PSDB) dispõe de uma lista com uma centena de endereços onde a organização criminosa explora essa nova modalidade de delito. De 90 loteamentos que estariam sob seu controle, 46 se encontram na zona sul da região metropolitana, área com grande concentração de mananciais para abastecimento.

Exemplo lamentavelmente representativo se encontra na ocupação Eiji Kikuti, em São Bernardo do Campo. Relatos de funcionários da Secretaria da Habitação paulista indicam que nem mesmo a Polícia Militar consegue entrar na área.

O fenômeno de perda de controle do Estado sobre extensas áreas urbanas é conhecido —e razão suficiente para muito alarmar— pelo exemplo do Rio de Janeiro. Milícias assassinas dominam bairros e comunidades inteiros, onde exploram serviços de gás, TV por cabo clandestina e suposta proteção, além de lucrar com imóveis ilegais.

Um caso tristemente notório se presenciou em Muzema, zona oeste da capital fluminense. Em abril de 2019, dois prédios erguidos sem autorização por milicianos vieram abaixo, deixando 24 mortos.

A impotência do governo paulista diante de tal metástase facinorosa não alcançou, de fato, o estágio terminal instaurado no Rio —ainda. Que a entrada da facção no ramo imobiliário lhe sirva de alerta para enfim começar a corrigir o abandono a que relegou as periferias por várias décadas.

editoriais@grupofolha.com.br

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