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Xico Graziano

Inexiste democracia de pensamento único

Bolsonaro se fortalece porque dá voz aos amuados

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Xico Graziano

O Brasil progrediu em 2019. Indicadores o provam. Mais empregos, vendas em alta, queda de juros, equilíbrio nas contas públicas, grau de credibilidade, investimentos. Tudo melhorou na economia. Nas cidades e no campo.

Houve, também, avanços na segurança pública, com queda significativa da criminalidade. Surpreendeu quem dizia que a violência explodiria. Houve recorde na apreensão de drogas, ações de inteligência contra quadrilhas. O ministro Sergio Moro (Justiça) manda bem.

Xico Graziano - Agrônomo, consultor em sustentabilidade no agronegócio, doutor em administração e professor de MBA da Fundação Getulio Vargas; foi deputado federal pelo PSDB-SP (1999 a 2007)
O professor, consultor e agrônomo Xico Graziano, ex-deputado federal pelo PSDB-SP - Divulgação

Há boas notícias no horizonte. Serão passageiras, isoladas? Não parece. Sente-se nas ruas, como vimos no final de ano, um suspiro de esperança sobre o futuro. Após anos de crise, chegou a hora da virada. Tomara.

É difícil avaliar um governo com isenção. Eu mesmo sou parte interessada. Desde as eleições de 2018 rompi com o PSDB para apoiar Jair Bolsonaro. Decidi ajudar a derrotar o sistema que corrompera os partidos e a democracia brasileira.

Passado um ano de governo, não me arrependo de nada. Naquilo que se pode mensurar, como a economia, a agropecuária e a segurança pública, os dados positivos são claros. Mantenho-me animado. Nada, objetivamente, piorou no Brasil.

Isso, porém, não é tudo. Há razões idealistas, subjetivas, e obviamente controversas, que gostaria de destacar nessa atual fase da política nacional. Agradam-me três questões.

Primeiro, o governo do presidente Jair Bolsonaro desmantelou o aparelhamento do Estado organizado pela quadrilha vermelha e por seus comparsas. Não falo apenas dos cargos de confiança ou da manipulação nos fundos de pensão das estatais. Era a mais profunda roubalheira, dissimulada em convênios espúrios com a “sociedade civil”, tipo MST.

Segundo, a proposta liberalizante do governo, encabeçada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, promove fortes mudanças na gestão pública. Centenas de controles burocráticos foram eliminados, favorecendo a liberdade econômica.

Em nome da proteção da “indústria nacional” erigiu-se um capitalismo de privilégios no Brasil. Vantagens tributárias e fiscais começam a ser desmanteladas, abertura da economia se processa. A regra é privatizar, vender tudo o que seja possível.

Terceiro, ao mudar o polo ideológico, da esquerda para a direita, as ideias progressistas se submetem agora à contraposição conservadora. É polêmico, mas sensacional. Inexiste democracia de pensamento único.

O Brasil estava precisando chacoalhar a mesmice do debate nacional. Vivíamos um cerco do politicamente correto, uma espécie de patrulha ideológica que impunha à sociedade, tão diversa, concordar sobre temas delicados ligados à sexualidade, à cultura, aos costumes.

Bolsonaro se fortaleceu porque dá voz a quem estava amuado, muitas vezes ofendido, pelas causas contemporâneas. Ao exigir o respeito à família cristã, atacar o tal globalismo, brigar com ambientalistas e pregar o patriotismo, ele provoca a inteligência política do país.

A polarização pode se acirrar. Pode. Não me refiro, porém, a essa estupidez da guerra digital das redes sociais. Penso na intelectualidade, na imprensa, nos formadores de opinião. Certos temas, importantes, andam carecendo, há tempos, de maior elaboração, de reflexões críticas.

Desmantelamento da política ambiental? Agronegócio envenenando o mundo? Índios sendo massacrados? Cultura em perigo? A educação acabou?

O raciocínio banal tem impedido o debate, sadio e responsável, sobre as políticas públicas, de caráter liberal, propostas pelo governo Bolsonaro. Continuar a dizer, como alguns o fazem, que houve “regressão” beira a desonestidade. Típico choro de derrotado.

Ora, Bolsonaro venceu as eleições prometendo, exatamente, mudar “tudo que está aí”. Recriminá-lo agora por propor modificar a ação do governo significa defender a mentira na política. Lula era especialista nisso. Deu no que deu.

É cedo para uma avaliação mais precisa sobre esse modo liberal de governo no Brasil. O estilo boxeador de Jair Bolsonaro às vezes ajuda —e outras atrapalha— a compreensão correta de suas propostas. E ainda existem os filhos, o Congresso, o centrão, o Supremo...

Não será fácil consertar o Brasil.

Xico Graziano

Agrônomo, consultor em sustentabilidade no agronegócio, doutor em administração e professor de MBA da FGV; foi deputado federal pelo PSDB-SP (1999 a 2007)

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