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Chefe da Secom confunde interesses ao manter empresa ligada a grupos de mídia

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O chefe da Secom, Fabio Wajngarten, durante pronunciamento em Brasília - Andre Coelho/Folhapress

A empresa FW Comunicação e Marketing presta serviços a algumas das maiores emissoras de televisão do país e a agências de publicidade que têm contratos com ministérios e estatais.

O dono do negócio, Fabio Wajngarten, assumiu em abril do ano passado o cargo de secretário de Comunicação do governo Jair Bolsonaro, função que lhe dá poderes para influir na distribuição das verbas para a propaganda oficial. 

Não é preciso muito esforço para perceber que é difícil conciliar as duas atividades sem ofender os princípios que regem a administração pública, entre os quais está a obrigação de evitar que interesses particulares se misturem com os da função exercida no governo.
 

Wajngarten achou que bastava se afastar formalmente da administração de sua empresa para resolver o problema, como disse nesta semana depois que a Folha revelou sua ligação com a FW. Trata-se de um equívoco.

Com 95% das cotas da empresa, criada em 2003, o secretário continua o principal beneficiário dos ganhos obtidos com suas atividades, o que o torna diretamente interessado no relacionamento que a FW mantém com seus clientes.
 

Wajngarten aumentou a confusão ao nomear como seu braço direito no Palácio do Planalto o irmão do empresário Fabio Liberman, escolhido para cuidar da administração da FW dias antes de assumir sua posição no governo. E em vez de manter-se longe dos clientes de sua empresa, o secretário reuniu-se com eles frequentemente nos últimos meses. 

Números da Secom mostram que duas emissoras que pagam pelos serviços de sua firma, a Record e a Band, viram suas receitas com publicidade do governo federal se multiplicar durante sua gestão, enquanto a Globo, líder de audiência, teve a fatia reduzida.

Como de hábito, Bolsonaro reagiu com truculência às revelações sobre o secretário. Atacou a Folha, mandou uma repórter do jornal se calar, defendeu o assessor e bateu em retirada sem dar nenhuma resposta sobre a atitude do secretário.

Fiel ao estilo do chefe, Wajngarten mostrou que não compreende seu papel como funcionário público, evitando prestar esclarecimentos sobre as atividades e a carteira de clientes de sua empresa.

Ao se pronunciar, ele se recusou a responder perguntas e fez ameaças, sugerindo que as portas do governo seriam fechadas a grupos que questionassem sua atuação.

Caberá aos órgãos encarregados de fiscalizar o governo, entre eles a Comissão de Ética da Presidência e a Corregedoria-Geral da União, examinar os negócios de Wajngarten com rigor e aplicar ao secretário a disciplina que a legislação impõe a casos como o seu.

editoriais@grupofolha.com.br

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