Após os horrores do Holocausto terem sido revelados, ao final da Segunda Guerra Mundial (1939-45), Theodor Adorno escreveu um epitáfio famoso sobre aquele período: “Depois de Auschwitz, escrever poesia é barbaridade”.
O filósofo alemão falava do complexo de prisão e extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Polônia ocupada pelos nazistas. Há exatos 75 anos, tropas soviéticas libertaram o campo, que se tornou símbolo do regime de Adolf Hitler.
A assertiva de Adorno é precisa: poucos momentos da história humana se equiparam em desolação à aniquilação sistemática e industrial de 6 milhões de judeus, além de integrantes de outras minorias.
Só em Auschwitz, foram cerca de 1 milhão de mortos. Em um evento alusivo à libertação do campo, realizado na quinta (23) em Jerusalém, um alerta coube ao presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier.
“Eu gostaria de dizer que os alemães aprenderam com a história de uma vez por todas. Mas não posso dizer isso quando o ódio está se espalhando”, disse Steinmeier.
Troque alemães por americanos, poloneses, brasileiros, indianos.Neste começo de século há inúmeros exemplos de um espraiamento da intolerância, no mundo todo.
O fenômeno acompanha a revolução da comunicação instantânea, que permite a aspersão do veneno da desinformação sem filtros.
Nesse contexto, chama a atenção a rusga entre Rússia e Polônia em razão de o presidente Vladimir Putin ter sido convidado a falar em Jerusalém, enquanto seu colega Andrzej Duda não o foi.
Os países disputam versões sobre as origens do conflito mundial. Em Israel, Putin ainda lembrou que colaboradores do nazismo podiam ser piores que os opressores, uma referência indireta à Polônia.
Tal ambiente só favorece o cenário lamentado por Steinmeier. O combate a isso se dá com educação e sobriedade na análise histórica. E ela é inequívoca quanto à extensão da tragédia do Holocausto.
Daí o mote “nunca esquecer” dos programas de divulgação sobre o período. O risco de manipulações por motivos políticos é real, mas é compensado pela necessidade de evitar a repetição da história.
Quando o então secretário de Cultura brasileiro, Roberto Alvim, macaqueou o propagandista nazista Joseph Goebbels e espalhou seu detrito ideológico na internet, não havia espaço para relativismo: a punição tinha de ser rápida. Até Jair Bolsonaro, não exatamente um modelo de líder tolerante, entendeu isso.
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