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O policial ciclotímico

Política errática de Trump para o Irã é garantia de continuidade da crise

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Cartaz em evento de campanha do presidente Donald Trump - Seth Herald/AFP

Barack Obama elegeu-se em 2008, entre outras coisas, devido ao fastio do público americano com os atoleiros da dita guerra ao terror: o conflito no Afeganistão e no Iraque, decorrentes do 11 de Setembro.

No caso iraquiano, a retirada de 2011 foi celebrada como vitória, mas trazia em seu ventre o preâmbulo da ascensão do inominável Estado Islâmico e a renovada influência do Irã sobre o vizinho.

A busca por menor engajamento, em especial no Oriente Médio, teve outros efeitos, como o caos na Síria e a volta da Rússia à região.

O sucessor de Obama, Donald Trump, assumiu em 2017 prometendo deixar de lado as “guerras inúteis”. Sua imprevisibilidade se viu quando atacou alvos do governo sírio sem que a tática se encaixasse em alguma estratégia visível.

Ao fim de 2018, abandonou os antigos aliados curdos à sorte e permitiu que Rússia, Turquia e Irã assumissem o espólio sírio.

Como Obama, Trump afirmava querer deixar o Oriente Médio, só para ser convocado pela realidade. Em 2018, abandonou o falho acordo que visa barrar a construção da bomba atômica iraniana.

Se então pendeu para o belicismo, recuou depois com a demissão do assessor de Segurança Nacional que pregava a guerra ao país persa.

Em 2019, protestos surgiram contra o Irã, em casa e em vizinhos sob sua influência, como o Iraque.O regime reagiu contra interesses dos EUA. Petroleiros aliados foram apreendidos e uma refinaria saudita foi atacada por parceiros do Irã, só para lembrar o efeito global de escaramuças na região.

A escalada chegou ao sítio da embaixada americana em Bagdá, que fez Washington endurecer e matar o arquiteto das ações externas de Teerã, general Qassim Suleimani.

A retaliação iraniana, com o inédito ataque a posições dos EUA no Iraque, foi comedida para dar tanto ao presidente quanto ao líder Ali Khamenei a faixa da vitória. Assim foi, ainda que haja resistências a Trump como o veto a novas aventuras militares aprovado pela Câmara, que deve cair no Senado.

O americano anunciou mais sanções econômicas contra o Irã. É uma tática gasta, que visa resistir até a eleição de novembro. Novos embates virão sobre o programa nuclear de Teerã e com eventuais ações para vingar Suleimani.

“Grandes impérios não são mantidos pela timidez”, ensinou o historiador romano Tácito. Por gravidade de seu peso militar e econômico, espera-se dos EUA responsabilidade no papel de único país capaz de intervir em qualquer crise.

Se assevera poder com brutalidade ou age como policial indolente, Trump não serve bem aos interesses de seu país —e, por extensão, aos de um mundo que acompanha em sobressalto suas ações.

editoriais@grupofolha.com.br

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