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Fatih Birol e Alfonso Blanco

O setor de energia e a recuperação sustentável na América Latina

Região poderá se beneficiar com histórico de inovação em energia limpa

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Fatih Birol

Diretor-executivo da IEA (Agência Internacional de Energia)

Alfonso Blanco

Secretário-executivo da Olade (Organização Latino-Americana de Energia)

Após sete anos de crescimento lento, as economias latino-americanas devem experimentar sua maior contração da história como resultado da crise da Covid-19, aprofundando as dificuldades sociais e econômicas enfrentadas por grande parte da população —em particular, os membros mais vulneráveis.

Apesar dessa situação difícil e complexa, há muitos motivos para ser otimista quanto ao futuro da América Latina. A região possui grandes vantagens, como a riqueza em recursos naturais, e uma população jovem e diversa. O setor de energia pode ser um dos motores de uma recuperação sustentável, resiliente e inclusiva nas economias latino-americanas.

A região é líder no uso de energia renovável. Hoje, mais de 55% de sua eletricidade é gerada por fontes renováveis, bem acima da média global, de 35%. O uso de energias renováveis para o transporte na região também está bem acima da média. Isso se deve em grande parte aos projetos pioneiros de energia hidrelétrica e biocombustíveis, combinados com soluções tecnológicas e uma tradição de políticas inovadoras —como o modelo brasileiro para leilões de energia renovável, que foi adotado e adaptado em todo o mundo.

Além disso, a América Latina tem muito espaço para fazer ainda mais. A região possui alguns dos melhores recursos eólicos e solares do mundo e está começando a aproveitá-los. Por exemplo, grandes projetos solares estão sendo construídos no norte do Chile e na Argentina. Esses dois países, junto com a Colômbia e o Brasil, ainda pouco exploraram seus enormes potenciais eólicos. A iniciativa Energia Renovável na América Latina e no Caribe (Relac), liderada por Colômbia, Chile e Costa Rica, visa aumentar a participação das energias renováveis na geração de eletricidade. Aplaudimos e apoiamos essa iniciativa.

Hoje, os governos da América Latina enfrentam o desafio de traçar um caminho seguro e sustentável para sair da crise da Covid-19, que colocará seus cidadãos, economias e sistemas de energia em uma posição mais estável. A pandemia deverá levar mais 16 milhões de pessoas na América Latina para condições de extrema pobreza neste ano, elevando o total para mais de 83 milhões. Milhões de latino-americanos vivem em moradias inadequadas, muitas vezes sem acesso a serviços modernos de energia, como energia elétrica e cocção eficiente e limpa. Isso destaca a importância em garantir que as medidas de recuperação econômica sejam tão inclusivas quanto possível e que beneficiem as populações mais vulneráveis.

O Plano de Recuperação Sustentável da IEA ("IEA Sustainable Recovery Plan"),a Agência Internacional de Energia, mostra como ações governamentais inteligentes e direcionadas, ao longo dos próximos três anos podem impulsionar o crescimento econômico e criar empregos, reduzindo simultaneamente as emissões de gases de efeito estufa e aumentando o acesso à energia. Medidas para oferecer serviços de energia modernos e eficientes podem trazer vários benefícios, como melhor qualidade do ar e melhor acesso ao saneamento.

Na América Latina, os esforços de recuperação econômica e social pós-Covid-19 podem encontrar uma oportunidade no setor da energia para aproveitar os pontos fortes da região. Políticas e investimentos para acelerar a mudança para tecnologias de energia limpas, acessíveis e modernas podem ajudar a gerar empregos de qualidade, ao mesmo tempo em que aumentam a competitividade das economias e a produtividade dos trabalhadores.

É por isso que, nesta quarta-feira (7), estamos coorganizando a Mesa Redonda Ministerial da América Latina 2020. O evento reunirá ministros e outros líderes do setor de energia de toda a região para discutir como mapear o futuro da energia limpa, mobilizar investimentos e promover a inovação de forma a estimular o desenvolvimento econômico e criar oportunidades para todos.

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