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Andreza Delgado

Por que Comic Con na favela?

A cultura pop fala com todo mundo, sim, mas seu acesso ainda fica restrito a grupos seletos

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Andreza Delgado

A cultura pop fala com todo mundo, sim, mas seu acesso ainda fica restrito a grupos seletos, condição cultural reproduzida até mesmo, ou principalmente, no setor do entretenimento. 

O pop é desejo de consumo de todos, mas realidade de poucos, ora pelos obstáculos na mobilidade urbana, ora por seus valores exorbitantes, ou por desafios comportamentais em uma sociedade ainda resistente à diversidade.

O projeto PerifaCon 2019, um evento comercial de entretenimento que aposta na diversidade e na periferia como a essência de seu negócio, surgiu para pesar nessa balança das desigualdades que se estende até na hora de pensar em diversão. Neste ano, o evento ocorrerá nos dias 11 e 12 de abril, na Cidade Tiradentes.

Sim, negócio: a pequena produtora nasceu com a ideia de dividir a paixão pelo universo nerd com outras pessoas e de aproximar a periferia da possibilidade de consumo, de criação e de experiência em seus próprios territórios —sem necessidade de se deslocar— e vem investindo na democratização do acesso à cultura pop e na geração de oportunidades para empreender dentro da quebrada.

O que nos traz ao ponto: por que não consumir e empreender na quebrada? 

A aposta no morador de favela como consumidor e empreendedor só poderia vir de quem vive a carência de ter que se deslocar para o centro para conseguir acessar comércio & entretenimento & renda. 

A economia criativa também é uma grande aposta e oportunidade para os moradores de periferia.

É preciso quebrar com a ideia atrasada de que os bailes funk acontecem somente por falta de alternativa para os jovens moradores. Na verdade, nós estamos falando de um lugar onde as pessoas promovem intercâmbios culturais e de lazer. 

Em 2017, na reportagem o “Fluxo do Fluxo”, do Uol TAB, o repórter Jeferson Delgado trouxe histórias de moradores de Paraisópolis que tiveram impacto nos seus negócios locais por conta dos bailes funk, as festas nas ruas que demarcam o encontro da juventude periférica nos finais de semana, que comunicam da periferia para a periferia.

Por isso, mais do que nunca, a primeira Comic Con da Favela não é só uma necessidade, é um movimento irreversível de mudança social e da lógica de modelos econômicos de mercado.

Quer dizer, o entretenimento na periferia não é só uma chance para alívio individual, mas também oportunidade de transformação econômica e de expectativa de vida, principalmente para a juventude favelada brasileira.

andreza.delgado@hotmail.com

Andreza Delgado se aventura pelo universo nerd enquanto produz conteúdo na internet, escreve na revista Capitolina e é uma das criadoras da PerifaCon

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