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Antonio Anastasia

Radicais de centro

Qual nação na história avançou sob ideias extremistas?

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Li com atenção o artigo publicado, nesta Folha, pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB). Por todo o Brasil já repercute o trabalho que esse jovem e dinâmico gestor vem desenvolvendo. Todos sabemos os desafios que ele encontrou. Com coragem, ousadia e, o mais importante, com diálogo, planejamento e muito empenho ele tem oferecido rumo a um dos mais importantes estados da Federação. O futuro próximo mostrará a relevância do seu trabalho e o fará justiça. 

Seu texto trouxe uma reflexão que considero importante e que, de fato, precisamos fazer. Ao longo da história, qual país do mundo se desenvolveu verdadeiramente com ideias extremas? 

O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) em Brasília - Pedro Ladeira - 17.jun.16/Folhapress

Desafio todos a encontrar resposta. Quando, qual nação, em que momento e de que forma, avançou-se econômica e socialmente com ideias extremistas?

Minha reflexão, passando pelas sábias ponderações trazidas pelo governador Eduardo Leite, conclui  —respeitando, naturalmente, quem pensa o contrário; e a intenção aqui, de fato, é gerar debate— que nenhuma nação, em nenhum momento, desenvolveu-se democraticamente abraçando extremos.

Mas o contrário se confirma. No New Deal, por exemplo, os Estados Unidos se transformaram com ideais de centro. A China cresce e se torna uma potência mundial abandonando as teorias marxistas e se abrindo economicamente ao mundo. O Leste Europeu e os tigres asiáticos fizeram verdadeira revolução econômica, cultural e social quando, igualmente, abandonaram ideais extremistas. A Europa se desenvolveu sobremaneira na segunda metade do século 20 quando garantiu democracia, crescimento econômico e equidade social. É no equilíbrio e no diálogo que, de maneira sustentável e duradoura, o desenvolvimento floresce. 

Por isso, ao contrário do que muitas vezes querem nos fazer entender as redes sociais e a própria opinião pública em geral, precisamos, verdadeiramente, cada vez mais, nos assumir como radicais. Radicais de centro! 

Etimologicamente, a palavra “radical” vem de “raiz”, a base, o fundamento. Especialistas dizem (não os das redes sociais) que a raiz é a parte mais importante da árvore. Jamais haverá bons troncos, folhas, flores ou frutos se não houver raiz firme e vigorosa. 

Nossa raiz não pode pender para um lado ou outro. Precisa ser profunda. Precisa ser a ponderação, a sensatez, o bom senso, o centro. Pregavam já os romanos, século e séculos atrás: “in medio virtus” —a virtude encontra-se no centro.

Sei bem que, com essa posição, não faltarão críticas. E não me incomodo com elas, as considero e as respeito. Descontentes —e é natural que alguns reclamem, enquanto outros trabalham—  vão nos acusar de “ficar em cima do muro”. Esquerdistas continuarão a nos chamar de neoliberais. Direitistas insistirão que somos comunistas. Tentarão os extremos nos encurralar. Seguiremos... 

Afinal, o que fazer quando nossa posição continua a ser a defesa do livre mercado, com a necessária regulamentação e segurança jurídica, com justiça social? Como defender outra coisa quando o que acreditamos é que a geração de empregos de qualidade, com a qualificação da nossa mão de obra, é, sem dúvida nenhuma, o melhor programa social que um país pode adotar? Que bandeira diferente podemos levantar quando acreditamos e lutamos pela presença necessária do Estado para ajudar a sustentar políticas sociais inclusivas, que deem oportunidade de ascensão social e acesso à educação e saúde públicas de qualidade?

No Executivo ou no Legislativo temos de defender —não nos envergonhar, jamais— as posições que acreditamos, por mais que sejamos incompreendidos ou que, por algum tempo, não seja nosso o pensamento majoritário. 

O que a sociedade mais espera de seus representantes é coerência. E, apesar dos rótulos ou das injustiças, continuarei a defender que sejamos, de fato, radicais de centro. Porque acredito que só assim poderemos evoluir, nos desenvolver enquanto sociedade, avançar enquanto nação.

Antonio Anastasia

Vice-presidente do Senado Federal (PSD-MG) e proponente do projeto de lei 1.179/2020

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