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Absolvição de Trump encerra teatro do impeachment; comédia democrata toma a cena

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Donald Trump comenta na Casa Branca o desfecho do processo de impeachment - Nicholas Kamn/AFP

Em fevereiro de 1999, o então presidente americano Bill Clinton falou à nação após ser absolvido pelo Senado das acusações de perjúrio e obstrução de Justiça, que haviam levado a Câmara a aprovar um processo de impeachment.

“Eu sinto profundamente pelo que disse e pelo que fiz para provocar esses eventos”, afirmou. Ele havia rejeitado as acusações, mas pedido desculpas por ter tido um relacionamento com a estagiária Monica Lewinsky, estopim do caso.

Vinte e um anos depois, a história se repete de forma farsesca. Donald Trump aproveitou sua vez de ter o impeachment arquivado não para encenar um ato de contrição, mas para despejar um vitriólico discurso contra os adversários.

Visou em particular a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, que dois dias antes havia se deixado ver rasgando o discurso do Estado da União de Trump. “Uma pessoa horrível”, disse o presidente.
Como se sabia de antemão, o republicano não perderia o cargo por ter pressionado o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, a investigar o filho de seu adversário democrata Joe Biden.

A acusação, séria e bem mais documentada do que a suposta interferência russa no pleito presidencial americano de 2016, deverá permanecer como um espinho na imagem de Trump, mas o processo de impeachment em si sempre foi um teatro político.

A questão lícita é saber se o eleitorado que goza de um ambiente econômico favorável, com a menor taxa de desemprego em 50 anos, punirá o presidente por uma acusação sem julgamento efetivo e pelo abuso de poder ao longo da tramitação de impedimento.

O mandatário detém a maior aprovação em pesquisas do instituto Gallup desde que assumiu o posto, de 49% —a outra metade dos americanos o rejeita, espelhando uma polarização cristalina no país.

As intrincadas regras eleitorais americanas, que permitiram a Trump ser eleito sem ter a maioria no voto popular, tendem portanto a favorecer o presidente se ele mantiver a estratégia de conquista de estados-chave no número de delegados no Colégio Eleitoral.

Mais que isso, o patético desempenho do Partido Democrata nas primárias de Iowa insinua que o republicano poderá ter um caminho facilitado pela inépcia do rival.

Naquele estado, passados quatro dias, não há uma definição de quem foi o vencedor da primeira prévia da temporada. À confusão adiciona-se o fato de que a disputa está pulverizada. Candidatos têm perfis díspares e nenhum, a esta altura, inspira confiança como um nome ideal para o pleito.

O espetáculo do impeachment está encerrado, e o pano sobe para o pastelão das prévias democratas.

editoriais@grupofolha.com.br

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