Descrição de chapéu

Incontinência verbal

Falas improvisadas de Paulo Guedes corroem sua credibilidade como interlocutor

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O ministro da Economia, Paulo Guedes - Pedro Ladeira - 21.ago.19/Folhapress

Fiador do governo Jair Bolsonaro na área econômica, o ministro Paulo Guedes mina sua credibilidade com frequência quando vem a público expor o que pensa sobre os problemas brasileiros. 

Não há dúvida de que o acelerado crescimento das despesas do governo com pessoal é uma questão que requer atenção, e a equipe do ministro há meses debate uma proposta de reforma administrativa para atacar o problema. 

Na semana passada, no entanto, Guedes sabotou o próprio projeto ao chamar de parasitas os funcionários públicos, numa palestra em que defendeu mudanças nos salários e nas carreiras dos servidores. 

Além de unir os sindicatos da categoria e outros opositores da reforma, o ataque grosseiro e indiscriminado ao funcionalismo contribuiu para desencorajar o governo e seus aliados no Congresso. 

Na quarta (12), o ministro fez outra exibição de insensibilidade e destempero ao tratar com escárnio as empregadas domésticas enquanto discorria sobre o encarecimento do dólar e seu impacto na vida dos brasileiros. 

Ao dizer que essas trabalhadoras de baixa renda se aproveitavam num passado recente do dólar barato para buscar diversão na Disneylândia —e tratar tal suposição como um desarranjo, “uma festa danada”—, Guedes revelou preconceito social grosseiro.

Num momento em que a frágil recuperação da atividade econômica e a necessidade de restaurar a saúde das finanças públicas impõem sacrifícios gerais, a verborragia do ministro decerto não contribui para seu papel de formulador e negociador das reformas.

Na Presidência, Bolsonaro adotou sem rodeios a ofensa e a desinformação como pilares de sua estratégia de comunicação. Guedes ainda não chegou a tanto, mas cumpre mal suas funções sempre que fala o que lhe vem à cabeça sem medir consequências.

Basta lembrar a espantosa entrevista que concedeu em novembro, quando evocou o fantasma do AI-5 ao criticar adversários que estimulavam manifestações contra Bolsonaro nas ruas. Ou quando defendeu uma “prensa” no Congresso pelas mudanças previdenciárias.

Num governo chefiado por um presidente incapaz de definir com clareza as prioridades de sua agenda, um ministro da Economia que se comunica de forma tão desastrada terá maior dificuldade em representar uma fonte de segurança para políticos e investidores.

Enquanto Bolsonaro precisa de apoio no Congresso para promover reformas ambiciosas e de altíssimo custo político em ano eleitoral, Guedes não raro se revela um porta-voz inconveniente, que empurra o governo para o isolamento e envenena o debate.

editoriais@grupofolha.com.br

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