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Loteria da chuva

Sem estratégia e com obras em atraso, cidade de SP conta com a sorte no verão

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Região do rio Aricanduva, que aguarda reservatórios e obras viárias contra enchentes - Zanone Fraissat/Folhapress

Todos os anos, as abundantes chuvas de verão trazem incontáveis transtornos para os moradores da cidade de São Paulo. Ruas e avenidas se tornam intransitáveis; casas e estabelecimentos comerciais são varridos pela enxurrada; túneis e viadutos terminam inundados —e isso quando não acontecem irreparáveis tragédias humanas.

Tão costumeira quanto o aguaceiro, a inépcia municipal faz com que o tamanho do infortúnio dependa mais do volume das águas que baixa dos céus do que das ações de prevenção realizadas em terra.

Há mais de cinco anos, por exemplo, a cidade mais rica do país aguarda a elaboração da estratégia de redução de riscos, exigência do Plano Diretor aprovado em 2014. 

O documento deverá definir as obras estruturais prioritárias, além de medidas de segurança e proteção, tanto das áreas sob perigo de inundação, deslizamento e solapamento como das pessoas que vivem nessas regiões, fixando prazos e estimativas de recursos para cumprir as diretrizes.

Não se trata de questão menor. O último mapeamento de risco geológico da cidade, feito há uma década, identificou a existência de 407 áreas sob ameaça e ao menos 29 mil famílias vivendo em regiões de risco alto ou muito alto. 

De lá para cá, a situação só piorou. A Defesa Civil vem atualizando esse quadro desde 2015, e encontrou mais 63 áreas sob ameaça.

O atraso na elaboração de um plano capaz de lidar com essa realidade motivou a abertura de um inquérito por parte do Ministério Público paulista. Os pedidos de explicação, bem como os prazos dados para que a gestão Bruno Covas (PSDB) apresentasse um cronograma de conclusão do documento, só resultaram em evasivas. 

Se as ações futuras permanecem incertas, as do presente encontram-se em compasso de espera. Das 17 grandes obras de drenagem hoje em curso na capital, 14 já deveriam estar prontas, caso as previsões estipuladas pela administração tucana e a anterior, petista, tivessem sido cumpridas.

O atual governo afirma que entregará algumas das obras neste ano e que projetos herdados da gestão de Fernando Haddad tiveram de ser refeitos. Já a versão petista diz que eles só não foram completados à época devido ao contingenciamento de verbas federais.

Enquanto os dois lados lavam as mãos, o paulistano, sobretudo o mais pobre, conta com a sorte para escapar das tormentas de verão.

editoriais@grupofolha.com.br

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