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O brexit consumado

Tendências isolacionistas reverberam pelo mundo após saída do Reino Unido da União Europeia

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Funcionários retiram bandeira do Reino Unido de pavilhão europeu em Bruxelas - Olivier Hoslet/AFP

O calvário político pelo qual o Reino Unido e a UE (União Europeia) passaram desde que 51,9% dos britânicos decidiram em referendo deixar o bloco continental, em 2016, finalmente está consumado.

Os problemas práticos agora se colocam, a começar pela inédita destrinça do corpo simbiótico de um Estado da UE. Politicamente, contudo, a novela chega ao fim.

Não deixa de ser boa notícia, porque a vontade da população estava em xeque, ainda que os argumentos contra o euro tendam a ser convincentes. Foram necessárias a queda de dois governos e uma eleição com maioria esmagadora pela saída para convencer a mãe das democracias ocidentais.

O brexit também reforça certa tendência isolacionista registrada nas sociedades herdeiras da Carta Magna neste começo de século 21, como grita o exemplo de Donald Trump nos Estados Unidos.

Organismos multilaterais surgidos das cinzas da Segunda Guerra Mundial estão desacreditados. Decisões unilaterais seguem em alta e a Organização das Nações Unidas, quando muito, é um cartório dos cinco vencedores de 1945.

É um mundo no qual a defesa do livre comércio tem cabido a uma ditadura comunista, a China.

Neste sentido, o brexit questiona a validade do projeto europeu. Nascido para evitar que Alemanha e França entrassem novamente em guerra, ele transmutou-se em uma espécie de Leviatã a partir dos anos 1990, com sua expansão ao leste e a ascensão da moeda única.

Londres sempre foi uma cética sócia do clube e nunca aderiu ao euro. Mas trazia equilíbrio ao duopólio natural de Berlim e Paris, não menos pela resistência às facetas mais esdrúxulas da influência de Bruxelas sobre o cotidiano de moradores de Lisboa a Bucareste.

Se novos abandonos do bloco não estão no horizonte, rachaduras programáticas já abundam na esteira dessa insularidade: a ideia da direita italiana de criar uma moeda paralela, os ataques ao Judiciário na Polônia e na Hungria.

Claro que são movimentos pendulares. Em 1910 a globalização centrada em Londres era vista como definitiva, o que ruiu quatro anos depois. Até a Segunda Guerra, fascismo e comunismo disputavam um futuro inevitável, enquanto a UE pós-Guerra Fria parecia o cemitério dos nacionalismos.

Nada foi definitivo. Como todo grande sismo, contudo, o brexit deixa choques secundários a reverberar pelo mundo por muitos anos.

editoriais@grupofolha.com.br

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