Podemos afirmar que a política mundial está polarizada. Eleições populistas, discursos de ódio e radicalização de agendas se fazem presentes em muitos países ocidentais. É comum pessoas e discursos se guiarem por agendas herméticas, as quais não podem ter sequer um dos seus itens alterados.
Porém, é preciso enxergar a política como ferramenta, por meio da qual podemos resolver problemas, melhorar dificuldades sociais ou dar continuidade ao que está funcionando. Nem sempre tudo que uma agenda específica protege é ruim ou bom, não importa de qual ideia ou política seja proveniente.
A indignação, após os discursos de Donald Trump e Binyamin Netanyahu, depois do anúncio do plano de paz proposto pela Casa Branca, foi premeditada. Obviamente, aqueles que não gostam de Trump ou Bibi encontraram motivos para rejeitar a proposta de paz, mostrar que ela nunca iria funcionar e já tentar deslegitimá-la.
Reparem no absurdo: pessoas, muitas das quais instruídas e bem-intencionadas, estão rejeitando o plano sem dar a chance para que ele possa funcionar. Um egoísmo para com palestinos e israelenses, que estão há décadas em conflitos e espirais de violência. O mínimo que podemos esperar dessa proposta é que ela venha servir de base para negociações, promover o diálogo e, quem sabe, tal como está escrita ou com mudanças feitas em comum acordo, funcione e traga paz para a região.
O plano é pragmático e seguro para ambos os lados, caso eles sentem e negociem os termos finais. Como afirmaram oficiais da Casa Branca, a proposta não é engessada e há muito espaço para negociações, mudanças e adaptações.
Desde 2014 não há qualquer iniciativa de paz liderada pelos EUA. Desde então, palestinos se negam a negociar diretamente, a não ser que Israel solte terroristas presos. Por sua vez, Israel adota a política de apenas negociar sem precondições. Deu-se o impasse.
O chamado “Acordo do Século” não é exatamente um acordo, mas, sim, uma proposta. É cedo para esperar apertos de mãos, como os que ficaram famosos, por exemplo, no acordos de paz entre Israel e Egito ou Israel e a Organização para Libertação da Palestina, de Arafat.
Essas imagens, que ficaram para a posteridade, foram feitas no final de um processo, não no início. Nenhuma proposta ou iniciativa de paz na história das negociações entre palestinos e israelenses foi perfeita. Estamos, porém, diante de um começo: após anos, é a oportunidade de um governo americano próximo de Israel valer-se desse status para levar israelenses e palestinos à mesa de negociações, fazer com que Israel aceite um Estado palestino e que os palestinos aceitem um Estado judeu.
A ausência da liderança palestina foi sentida durante a cerimônia de revelação do plano, em janeiro deste ano. O motivo: meses antes, o governo de Abbas havia esfriado relações com Washington após deixar de receber verbas do governo dos EUA destinadas a Ramallah —mas que, comprovadamente, eram usadas para pagamento de terroristas presos em Israel e suas famílias, numa soma que chega a US$ 400 milhões ao ano.
A Liga Árabe rejeitou o plano de paz. Porém, países árabes, como Oman, Emirados Árabes, Marrocos e Egito, entre outros do Oriente Médio e de diversas regiões ao Ocidente e ao Oriente, manifestaram-se favoravelmente à proposta. A oferta está feita. Não é necessário amar Trump, Bibi ou Abbas para apoiar negociações com base no plano da Casa Branca. Basta amar a paz.
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