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Thomas Law e Víctor Gabriel Rodríguez

O racismo incubado no migrante chinês no Brasil

Chineses e descendentes esperam solidariedade

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Não há dúvida de que todo o cuidado é pouco com a síndrome respiratória Covid-19, o novo coronavírus que se espalhou a partir da cidade chinesa de Wuhan. É fundamental, no entanto, que indivíduos que apenas têm traços físicos semelhantes àqueles que no outro extremo do planeta estão contagiados pelo vírus não sejam vítimas de preconceito e racismo. Ofensas e violências assumem o mesmo predicativo.

Fake news, como fotos com pessoas caídas ou comendo morcego, circularam pelas redes sociais. Para combater as notícias falsas e o racismo, o Ibrachina —instituto dedicado a promover a integração entre os povos do Brasil e da China— criou o “Observatório Coronavírus” e o canal de denúncias #racismonão.
Entre 1958 e 1962 a China viveu a pior fome já vista na história. Por questões de sobrevivência, os chineses tiveram de comer animais exóticos. Hoje, afirmamos, a população chinesa não come morcegos.

Voluntária chinesa mostra alimentos doados pela população a médicos e enfermeiros que trabalham para socorrer as vítimas do novo coronavírus na cidade de Wuhan, epicentro da doença - Cheng Min/Xinhua

A China conseguiu erradicar a pobreza de forma impressionante, transformando uma economia rural em tecnologia e indústria de ponta. Julgar um povo por consumir alimentos diferentes é um absurdo —basta lembrar que, na Índia, a vaca é sagrada. É uma questão relativa.

A modernidade na China é algo presente. A contemporaneidade é visível na maior malha ferroviária de trens-balas do mundo; nas cidades inteligentes, como a de Shenzhen; na liderança da tecnologia de 5G e no domínio na tecnologia de desenvolvimento de inteligência artificial. Além dessas qualidades, destacamos que o povo chinês é alegre e resiliente, assim como o brasileiro. Dada a sua dedicação ao trabalho e à família, os chineses alcançaram a posição de segunda maior potência do mundo.

Tamanha dedicação materializou-se em obras impressionantes, como a construção de três hospitais em tempo recorde: o Dabieshan, o Huoshenshan e o Leishenshan, oferecendo mais de 4.000 leitos em menos de 15 dias. A Tencent criou plataformas eletrônicas para que as pessoas utilizem o sistema de telemedicina. Já A Didi Chuxing criou um canal para levar infectados diretamente aos hospitais de Wuhan.

Cumpre a nós, brasileiros e descendentes de chineses, salientar que a população da China está engajada, disciplinada, cumprindo as orientações do governo, pensando no bem coletivo. O desastre Covid-19 não é apenas um momento de direcionar esforços sanitários e científicos para estancar o vírus. É também a oportunidade de fazer notar a existência da velada, porém contundente, discriminação a um migrante que trabalha para um Brasil melhor. Alguém que espera apenas solidariedade e compreensão neste momento de fragilidade humanitária.

Vamos enfrentar o Covid-19 combatendo em primeiro lugar o preconceito. Afinal, o vírus não tem cara.

Thomas Law

Advogado, é presidente da Coordenação Nacional das Relações Brasil-China da OAB e do Ibrachina

Víctor Gabriel Rodríguez

Professor de direito penal da USP e membro do Programa Integração Latino-Americana

TENDÊNCIAS / DEBATES

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