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Fernando Allende

Por onde anda a esquerda?

Haverá um nome para enfrentar capitães e generais?

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ríticos de Jair Bolsonaro debitam sua eleição à facada que recebeu em Juiz de Fora (MG), o que lhe permitiu boa desculpa para ausentar-se dos debates com os demais candidatos, evitando a exposição e o confronto de ideias, onde dificilmente deixaria de revelar sua truculência e destempero com o qual brinda jornalistas e de resto a própria imprensa.

Mas se a facada foi um evento condenável, perpetrado por um desequilibrado que o colocou na eleitoralmente confortável posição de vítima, que comoveu seu eleitorado e provocou comiseração entre indecisos, um reduzido grupo competente de profissionais, liderado por seu filho Carlos, utilizou com maestria as redes sociais, despertando a guinada para a direita.

O presidente Jair Bolsonaro na cerimônia de posse do general Walter Braga Netto como novo ministro-chefe da Casa Civil - Pedro Ladeira - 18.fev.20/Folhapress

Certamente não serão poucos os que concordarão que o episódio de Juiz de Fora rendeu expressivos dividendos eleitorais; como não serão poucos os que atribuem sua eleição à fragilidade de uma esquerda liderada por um PT esfacelado. Como também não serão poucos os que atribuem a Lula, epicentro dos escândalos que assolaram o país, a vitória de Bolsonaro.

Reconhecido e festejado internacionalmente, Lula manchou sua formidável biografia.

Difícil admitir que o ex-presidente não soubesse da corrupção que grassava, a partir da Petrobras e que ocorria sob sua barba grisalha. A esquerda começava a ficar em frangalhos, e uma legião de militantes e simpatizantes do PT fundado por ele ficaram desnorteados —e ainda estão. Então começa a brotar um sentimento antipetista que assola o país, levando consigo o que restou da esquerda.

A derrocada petista caiu no colo da direita e de uma extrema direita que procura disfarces, mas tem no presidente, cercado de generais, um fascínio indisfarçável por regimes ditatoriais e que não poupa elogios a torturadores dos anos de chumbo dos governos militares. Candidato declarado à reeleição, Bolsonaro dificilmente será batido na urnas por uma esquerda desarticulada.

O presidente da República, que ignora a liturgia do cargo, está distante de ser o que jamais será: um estadista. E com uma esquerda sem nomes para enfrentar capitães e generais, resta aguardar por um nome com densidade eleitoral produzido pelo centro, mesmo que esse centro se desloque para a direita. E, como o futuro às vezes é imprevisível, um nome capaz de entusiasmar uma nova esquerda.

Fernando Allende

Doutor em opinião pública pela Universidade de Madri

TENDÊNCIAS / DEBATES

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