Descrição de chapéu

Rodoanel sem norte

Para concluir obra, governo tucano deve sanar 59 ameaças no último trecho

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Alça de acesso para a Fernão Dias, em Guarulhos, nas obras do trecho norte do Rodoanel - Zanone Fraissat/Folhapress
 

Mais de uma anomalia grave por quilômetro. Esse é o resultado da auditoria do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) no trecho norte do Rodoanel, que encontrou ao todo 1.291 problemas —dos insignificantes aos preocupantes— no espaço inconcluso de 44 km que deveria fechar o contorno rodoviário da Grande São Paulo.

Entre os 59 problemas sérios há pilares desaprumados, túneis com infiltração, erosão de taludes e trincas no revestimento final da pista. Para que o anel rodoviário possa ser aberto para circulação de veículos, tais falhas obrigatoriamente têm de ser reparadas, por questão de segurança dos usuários.

Tudo é superlativo nessa via que se tornou o símbolo dos sucessivos governos estaduais tucanos em São Paulo, para o bem e para o mal (mais para o mal).

Duas décadas se escoaram na obra arrastada, que teve o primeiro trecho entregue em 2002 —o oeste, com 32 km de seus 176 km para interligar dez rodovias que chegam à metrópole e desviar o tráfego de passagem, sobretudo caminhões.

A seção norte da obra é exemplo inacabado de incompetência perdulária. A construção iniciou-se em 2013 e deveria terminar em fevereiro de 2016, mas só 87,5% dos trabalhos estão concluídos.

Enterraram-se ali, até o momento, R$ 7,3 bilhões; estima-se que, entre anomalias por corrigir e o que falta construir, outros R$ 2 bilhões sejam necessários.

A construção, entretanto, encontra-se paralisada, fulminada pelos males usuais a assolar obras públicas no Brasil. O Ministério Público Federal calcula em meio bilhão de reais o prejuízo aos cofres estatais por superfaturamento e supressão de serviços das firmas empreiteiras, tendo denunciado 14 pessoas por fraudes na licitação.

Até a Lava Jato conspirou contra a conclusão do Rodoanel. Construtoras apanhadas no escândalo abandonaram os canteiros restantes, alegadamente por dificuldade financeira, e em 2018 o então governador Márcio França (PSB) rompeu contratos de 3 dos 6 lotes; João Doria (PSDB) cancelou os outros 3 no ano passado.

A não ser que se reeleja em 2022, Doria também terá dificuldade para concluir esse monumento à má gestão e à corrupção.

Quando o Rodoanel ficar pronto, as avenidas marginais de São Paulo poderão livrar-se de até 40% do transporte de carga que as congestiona. Ressabiado, porém, o contribuinte paulista ainda vê com desconfiança a chance de enfim ver desfeita a gigantesca anomalia.

editoriais@grupofolha.com.br

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