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Eliane Trindade

Secretária nascida na periferia é notícia em 2020

Ainda estamos longe da representatividade de fato

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Ter uma secretária de Estado nascida na periferia ainda é notícia em 2020. Infelizmente. Pela excepcionalidade e pelo caminho percorrido por uma mulher oriunda da base da pirâmide para chegar ao topo e aos espaços de poder em um dos países mais desiguais do mundo.

É o que me motivou a apurar e escrever sobre o perfil e a trajetória da secretária de Desenvolvimento Econômico do estado de São Paulo, Patricia Ellen da Silva. O texto, publicado em 6 de janeiro, foi alvo de críticas dias depois em artigo na página 2 desta Folha sob a alegação de fetichismo e desconhecimento.

A secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Patricia Ellen, que é de família de migrantes nordestinos e nasceu na periferia paulistana - Karime Xavier - 18.dez.19/Folhapress

Debate bem-vindo, mas equivocado pelo prisma de que não seria notícia. Como repórter, colunista e editora deste jornal, tenho retratado diversos casos sobre mobilidade econômica e social pelo recorte do empreendedorismo e da educação, sem cair no discurso fácil e superficial da meritocracia.

Vejo com orgulho o esforço da Folha em ser mais plural e ter maior representatividade em suas páginas e na própria Redação. Foi o primeiro veículo de comunicação a criar uma editoria de diversidade, assim como ao instituir o cargo de ombudsman.

Estamos longe de termos uma representatividade de fato de minorias e de excluídos nas páginas e nos quadros do jornal. Mas em quase três décadas de carreira tenho uma longa e aprofundada relação com as periferias e grupos marginalizados. Não por fetiche nem por militância. 

Procuro fazer um jornalismo comprometido com fatos e conectado com fenômenos sociais e econômicos de um país complexo como o Brasil. E um desses fenômenos atuais são as periferias como lugar de potência, criatividade e inteligência, em meio a violências e carências de todo o tipo.

Sou titular de uma coluna na versão online da Folha chamada Rede Social, em que procuro retratar os dois extremos da pirâmide social. Dois “Brasis” que precisam se encontrar e dialogar. Nas esquinas, nas oportunidades, nas páginas e dentro dos jornais.

Que bom poder dialogar neste espaço com minha colega, autora do texto crítico à reportagem, que se orgulha de sua origem periférica. Tenho uma trajetória diferente e a consciência dos meus privilégios, por ter nascido em um CEP que me colocou passos à frente na maratona educacional, por exemplo. O que me faz uma defensora das cotas e de outras políticas que possam equalizar distorções históricas.

Enfim, espero chegarmos a uma realidade em que ser profissional bem-sucedido(a) nascido(a) na periferia não seja mais notícia no Brasil.

Eliane Trindade
Eliane Trindade

Editora do Prêmio Empreendedor Social, parceria da Folha com a Fundação Schwab, e titular da coluna Rede Social

TENDÊNCIAS / DEBATES

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