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Violência indiana

Conflitos por discriminação oficial a muçulmanos mostram país em rumo perigoso

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Forças de segurança patrulham rua de Nova Déli em área afetada por protestos - Adnan Abidi/Reuters

Nesta semana, a capital da Índia, Nova Déli, foi varrida pela maior onda de violência religiosa ali registrada em décadas. Confrontos entre muçulmanos e hindus armados com paus, pedras e armas de fogo causaram mais de 30 mortes e deixaram centenas de feridos.

O enfrentamento transformou bairros da periferia em campos de batalha. Duas mesquitas foram incendiadas, além de casas, automóveis e estabelecimentos comerciais.

Por chocante que seja, a selvageria que se abateu sobre a metrópole indiana nada possui de abrupta ou inesperada. O clima de tensão sectária vinha sendo cevado desde o final do ano passado, quando o governo do primeiro-ministro Narendra Modi aprovou uma nova e controversa lei de cidadania.

O diploma determina que hindus, budistas, cristãos, parsis, sikhs e jainistas oriundos de países vizinhos podem se tornar cidadãos da Índia por enfrentarem perseguição em seus locais de origem.

A regra, porém, exclui os muçulmanos, grupo que perfaz 14% da população indiana, criando assim uma espécie de sistema hierárquico de cidadania baseado na religião. Desde então, seguidores do Islã têm ido às ruas do país, em atos majoritariamente pacíficos, para protestar contra a nova lei.

No último domingo, porém, líderes comunitários hindus de Nova Déli ameaçaram atacar muçulmanos que organizavam uma manifestação contra a lei da cidadania. O movimento foi instigado por um político local do BJP, agremiação de Modi, e rapidamente degringolou em combates ferozes.

No poder desde 2014, a sigla alimenta há anos uma deplorável retórica de discriminação religiosa, que marginaliza muçulmanos e defende a supremacia hindu, grupo que corresponde a cerca de 80% do 1,3 bilhão de habitantes da Índia.

O ministro do interior, Amit Shah, ex-presidente do BJP e próximo a Modi, já se referiu aos migrantes ilegais de Bangladesh, em sua maioria islâmicos, como “cupins” que deveriam ser atirados no mar.

Tal discurso não só favorece e legitima atos de violência sectária como pode acabar contaminando os órgãos de Estado. De acordo com moradores, as forças policiais da capital permaneceram passivas enquanto bairros muçulmanos eram assolados pela turba hindu.

Com o agravamento das hostilidades religiosas e o risco de que se disseminem pelo país, a Índia dá mais um passo no perigoso caminho que vem trilhando sob Modi —para longe de seus ideais fundadores de pluralismo e igualdade.

editoriais@grupofolha.com.br

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