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Zelar pela retomada

Diante de sinais de fragilidade na economia, BC acerta em reduzir juros de novo

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Fachada da sede do Banco Central, em Brasília - Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Apesar de resultados favoráveis ao final de 2019 e da perspectiva em geral positiva para este ano, permanecem sinais de fragilidade na economia. Em particular, a persistente letargia da indústria e das exportações sugere que a esperada aceleração do crescimento ainda se encontra sujeita a percalços. 

A produção industrial encolheu 1,1% em 2019, interrompendo a tímida trajetória de expansão dos dois anos anteriores. A tragédia de Brumadinho contribuiu para tanto ao derrubar o setor extrativo em 10%, mas o resultado geral é ruim mesmo descontando tal efeito.

Setores fundamentais como metalurgia, automóveis e máquinas estão estagnados ou em queda. 

Há uma coletânea de fatores que podem explicar o fenômeno, alguns de curto prazo e outros de natureza estrutural. A profunda recessão argentina, por exemplo, subtraiu 35% das exportações brasileiras para o pais vizinho, concentradas em manufaturados. 

Entretanto o problema parece mais profundo. Em outras retomadas, a indústria sempre reagiu. Em que pese a baixa competitividade, a desvalorização cambial dos últimos anos deveria ter aberto algum espaço para a produção crescer, ao menos substituindo importações. Nem isso está ocorrendo.

Não por acaso, e também em decorrência do ambiente internacional mais adverso, as exportações caíram 6,3% no ano passado. Agora, o coronavírus leva mais incerteza ao cenário global.

Em compensação, a demanda interna ainda parece firme. Emprego e renda estão em alta, embora modesta. Nos últimos meses ganhou tração a abertura de vagas formais, o que pode sustentar o consumo e o crédito.

A construção civil dá sinais de vida, que podem se tornar mais vigorosos se o programa de concessões de infraestrutura deslanchar. 

Tudo somado, o quadro aponta para crescimento perto ou talvez um pouco acima de 2% —os riscos, porém, são consideráveis. 

Nesse sentido, é bem-vinda a decisão do Banco Central de cortar os juros em 0,25 ponto percentual, para a nova mínima histórica de 4,25% anuais. Com inflação estimada em 3,4% neste ano, a taxa para os próximos 12 meses está apenas 0,8% acima da inflação, patamar que, em tese ao menos, tende a impulsionar a economia. 

Apesar da indicação do BC de que o ciclo de reduções está encerrado, não se veem sinais de aceleração dos preços, como se viu no IPCA de janeiro. Ao contrário, o BC deve se manter atento ao risco de uma nova frustração das expectativas de recuperação da atividade.

editoriais@grupofolha.com.br

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