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Acordo promissor

Entendimento militar com os EUA é exemplo de pragmatismo em meio à balbúrdia

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Os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro, durante encontro em Palm Beach (Flórida) - Jim Watson/AFP

A visita de Jair Bolsonaro à Flórida, encerrada nesta terça-feira (10), teve como marca a alienação proposital do presidente quanto a problemas interpostos pela vida real à gestão de seu governo.

Não bastasse ter deixado um pavio aceso na escala rumo a Miami, quando convocou a população a atos eivados de credenciais antidemocráticas no domingo (15), Bolsonaro tergiversou ao falar sobre o pífio desempenho econômico do país, o coronavírus e até a nova guerra de preços do petróleo.

Sobrou bastante da má diplomacia capitaneada pela ala dita olavista do governo, que exalta a gestão de Donald Trump. O americano até ganhou um boné macaqueando seu mote, que trazia a inscrição: “Faça o Brasil grande de novo”.

Ao menos a litania se fez acompanhar, a exemplo do ocorrido em outras turnês internacionais do presidente, de uma saudável dose de pragmatismo.

Foi assinado um acordo militar inaudito, que hoje só abrange 14 aliados da maior potência bélica do mundo. Segundo o texto, conhecido como RDT&E (sigla inglesa para Pesquisa, Desenvolvimento, Testes e Avaliação), Brasil e EUA podem fazer projetos conjuntos na área de defesa. A ciência aplicada pode resultar em produtos.

Para empresas nacionais, o cenário se mostra promissor, já que os fundos americanos são vultosos —o principal tem US$ 96 bilhões.

Cabe notar que isso não configura acesso direto às verbas, pois os programas terão de ter contrapartidas orçamentárias brasileiras.

Isso dito, há a expectativa na indústria de que parcerias sejam recompensadas com abertura do maior mercado militar do mundo, que é responsável por 39% de todo o dispêndio global com defesa.

Bolsonaro e seu time obviamente propagandeiam o acordo como uma vitória de seu alinhamento sem freios a Trump —o que é parcialmente verdadeiro. O RDT&E havia sido proposto pelos EUA em 2017; a aproximação entre os países trouxe celeridade à negociação.

Isso não deve se confundir com delírios como a entrada do Brasil na Otan, aliança militar ocidental, mas constitui avanço palpável.

É preciso vigilância, contudo, diante de pedágios que possam vir a a ser cobrados. Nesta quarta (11) será assinado pelo Itamaraty entendimento para que o Brasil adira ao América Cresce, programa de infraestrutura que visa fazer frente à iniciativa chinesa que já se espalha por 19 países da América Latina.

Os americanos não esconderam durante a visita sua intenção de ver barrada no Brasil a adoção de tecnologia chinesa para as redes de 5G, algo que certamente não pode ser definido sob pressão diplomática ou em ambientes festivos de confraternização ideológica.

editoriais@grupofolha.com.br

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