Descrição de chapéu

Ainda tateando

Falta ao governo plano abrangente para enfrentar impacto econômico da pandemia

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Fachada da sede do Banco Central, em Brasília - Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Na pandemia do coronavírus, as autoridades não têm escolha além de impor severas restrições à circulação de pessoas e, ao mesmo tempo, conter os danos decorrentes da paralisia econômica. O governo brasileiro ainda tateia na segunda frente de providências.

Ao menos as primeiras medidas começaram a ser anunciadas nos últimos dias, a partir do necessário entendimento de que o momento exige deixar de lado o controle orçamentário para evitar uma tragédia social. Entretanto ainda se nota a falta de um plano mais abrangente, ambicioso e coeso.

Se a ideia de transferir renda diretamente a trabalhadores informais mostra objetivos corretos, por exemplo, carece de foco a decisão de permitir a redução em até 50% de jornadas de trabalho e salários —de modo a, em tese, preservar empregos formais.

O fundamental agora é socorrer os estratos mais vulneráveis da população, o que necessariamente demandará expressivo gasto público, e evitar uma onda de falências, por meio, por exemplo, de alívio tributário e oferta de crédito.

Mudar contratos de trabalho a esta altura ameaça criar um tumulto político contraproducente, mesmo com a intenção anunciada de complementar a renda de parte dos trabalhadores atingidos.

Também se perceberam sinais de alheamento no corte de juros promovido pelo Banco Central na quarta-feira (18). A queda da Selic, de 4,25% para 3,75%, pode ser considerada tímida no atual contexto.

Afinal, o americano Fed e outras autoridades monetárias do mundo já baixaram suas taxas a zero e buscam garantir que os mercados não colapsem por falta de liquidez.

O comunicado em que o BC brasileiro justifica sua decisão soa ainda mais anacrônico, ao manter quase intacto o léxico de documentos anteriores. Repetem-se a preocupação com o andamento das reformas e as tradicionais projeções de inflação, como se a conjuntura política e econômica não tivesse sofrido uma reviravolta.

Não se recomenda, evidentemente, abandonar a prudência, mas reconhecer que o país está diante de risco gravíssimo de recessão —enquanto nem mesmo conseguimos retomar o patamar de Produto Interno Bruto anterior à profunda retração de 2014-16.

Estimativas para o PIB deste 2020 já caem abaixo de zero e, se o restante do mundo for um parâmetro, não se pode descartar a possibilidade de uma queda significativa.

O BC, que dispõe de outros instrumentos além da taxa de juros, pode fazer mais do que apresentou até agora. A política monetária decerto não será capaz de resolver a crise, mas cumpre indicar a disposição de agir com vigor para evitar os piores cenários.

editoriais@grupofolha.com.br

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