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Calamidade

Que ao menos ações do governo sejam mais coerentes que afirmações do presidente

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O presidente Jair Bolsonaro às voltas com a máscara de proteção indevidamente utilizada em entrevista coletiva - Pedro Ladeira/Folhapress

Enquanto o Brasil registra as primeiras mortes provocadas pela Covid-19, o governo Jair Bolsonaro toma, em meio a um discurso errático, suas primeiras medidas mais drásticas —entre as quais se destaca, pela carga simbólica, o pedido ao Congresso de reconhecimento do estado de calamidade pública.

Em termos práticos, abre-se o caminho para a elevação de gastos públicos destinados a combater a doença e seus efeitos econômicos. Nesta quarta (18), anunciou-se um desembolso de R$ 15 bilhões em três meses para o amparo de trabalhadores informais.

A providência vai ao encontro do que defendeu esta Folha, mas ainda carece de detalhamento.

Espera-se que ao menos as ações do governo se mostrem mais tempestivas e coerentes que as declarações do chefe de Estado. Em confusa entrevista coletiva, cercado de ministros, Bolsonaro mostrou mais preocupação em repetir bravatas do que em aprender o uso correto da máscara de proteção.

Além de apontar a calamidade pública, o Executivo publicou portaria estabelecendo punições a quem descumprir ordens médicas e determinando o uso de força policial para encaminhar pacientes desobedientes.

Todas as unidades da Federação estão suspendendo as aulas nas escolas das redes pública e privada e limitando as atividades nas repartições. O estado do Rio proibiu a entrada e a saída de ônibus na região metropolitana, além de reduzir a lotação dos coletivos.

Em São Paulo, cidade mais atingida, o prefeito Bruno Covas (PSDB) decretou situação de emergência e determinou o fechamento de comércios e aparelhos culturais.

Nada disso constitui exagero, ainda que as mortes contadas até aqui representem parcela pequena das infecções causadas pelo vírus Sars-Cov-2. Hoje, a letalidade da doença é estimada em 3,6%, com uma distribuição bastante desigual entre as faixas etárias.

O maior risco decorrente da epidemia, do ponto de vista da saúde pública, é o contágio maciço da população num curto espaço de tempo, e, por conseguinte, a sobrecarga dos serviços de atendimento.

Pelos dados até aqui coletados, cerca de 15% das pessoas contaminadas terminam por desenvolver quadros graves, que podem acarretar a necessidade de cuidados hospitalares, e 5% atingirão estado crítico, necessitando de suporte ventilatório em leitos de UTI.

Como se trata de uma doença que se alastra velozmente, a demora para agir pode levar a um colapso do sistema de saúde, como tem sido visto na Itália e no Irã.

O efeito colateral das medidas de isolamento e quarentena é a queda brutal, ainda que temporária, da atividade econômica, com efeitos dramáticos sobre a renda dos mais vulneráveis. Esta calamidade pode ser apenas atenuada, a um custo fiscal grande, porém inescapável.

editoriais@grupofolha.com.br

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