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Conter a marcha do vírus

Isolamento e UTIs são cruciais, mas gestão da crise também depende de testes

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Analista da Fiocruz exibe amostras de muco a serem testadas para o coronavírus - Carl de Souza/AFP

O exemplo internacional mostra que a prioridade zero de União, estados e municípios deve ser a contenção dos efeitos da marcha inexorável do coronavírus. Antes de mais nada, tentar enfrentar o colapso de serviços de saúde —oficialmente esperado em abril— aliviando a sobrecarga de pacientes nas unidades de terapia intensiva.

Existem duas maneiras principais de obter tal resultado. A primeira: suavizar a curva exponencial de contágios com medidas de distanciamento e isolamento social. Torna-se evidente que grandes centros urbanos necessitarão adotar restrições mais e mais draconianas para impedir circulação e contato entre pessoas.

A outra é aumentar de modo célere as vagas de UTI ou instalação similar para receber doentes graves de Covid-19, com os obrigatórios aparelhos de respiração forçada e monitores de funções vitais.

Trata-se de desafio logístico gigantesco, sobretudo em áreas e estados menos desenvolvidos. Afigura-se decisiva a coordenação de Brasília para fazer o equipamento chegar aonde for mais necessário.

Facilitar importações, como já vem fazendo, é só o começo; será preciso, decerto, comandar também a fabricação no país de peças e dispositivos para diminuir a dependência da oferta internacional, cada vez menor.

Liderança semelhante se espera do governo para equacionar outra atividade crucial para o enfrentamento da epidemia: obter dados de melhor qualidade sobre a propagação da síndrome respiratória grave. Neste caso, o necessário é elevar a capacidade de realizar exames para detecção do vírus CoV-2.

O Ministério da Saúde anunciou a meta de comprar 2,3 milhões de testes diagnósticos, que seriam suficientes para examinar 1,1% da população. Mas esse é apenas o plano; como noticiou esta Folha, até aqui 150 mil kits foram de fato adquiridos da Fiocruz e, destes, 29,3 mil entregues e 17,9 mil distribuídos.

A 22 pacientes por kit, seria o bastante para 394 mil brasileiros, ou 0,2% da população. Na Itália, onde grassa verdadeira hecatombe sanitária, foram testados 0,3% dos cidadãos. Na Coreia do Sul, cujo sucesso no combate à Covid-19 se atribui em parte à calibração eficiente das medidas com base em dados abundantes, chegou-se a 0,6%.

No Brasil, tal percentual corresponde a 1,26 milhão de pessoas. A meta do governo Jair Bolsonaro de obter 2,3 milhões de testes parece adequada, mas pairam dúvidas sobre sua real capacidade de torná-los disponíveis mais rapidamente.​

editoriais@grupofolha.com.br

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