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Clésio Andrade

Devagar com o andor

Vitalidade da democracia depende da harmonia entre os poderes

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A convocação de manifestações contra o Congresso Nacional é inoportuna e, em vez de acelerar as reformas do Estado, pode produzir resultados contrários aos interesses do país.

Ao fazer pressão sobre o Legislativo, o grupo do presidente Jair Bolsonaro adota uma estratégia de prevenção. Aproveita o fenômeno mundial de descrédito dos políticos para insuflar críticas aos parlamentares e até mesmo pressionar o Congresso Nacional. Acredita que podem incentivar e/ou forçar as votações —ou, ainda, deixar para o Parlamento o ônus de um eventual atraso na agenda reformista que elegeu o presidente.

Clésio Andrade - Empresário e empreendedor social, foi vice-governador de Minas Gerais (2003-2006) e ex-senador pelo MDB (2011-2014)
O empresário Clésio Andrade, ex-senador e ex-vice-governador de Minas Gerais - Divulgação

Essa estratégia beligerante, com rasgos antidemocráticos, além de desnecessária, é arriscada. Quando se coloca em xeque a ordem institucional, todo mundo sabe como a crise começa, mas nunca se sabe como ela pode terminar.

Na prática, o Congresso Nacional está debatendo e aprovando os projetos essenciais para o desenvolvimento do país. Destacam-se, desde o governo Michel Temer (MDB), o teto de gastos, a reforma da educação, a reforma trabalhista e, já neste governo, a reforma da Previdência e a redução de ministérios. Em tramitação, estão a reforma tributária, a reforma administrativa, a independência do Banco Central e a liberdade cambial, entre outros avanços que certamente serão aprovados. São passos importantes e dados com inédito apoio da sociedade.

Os marqueteiros de Bolsonaro estão exagerando e podem passar dos limites, colocando a perder um momento excepcional de mudanças profundas na economia e na organização do Estado brasileiro. Há muito tempo o Brasil não vivia um ambiente político tão favorável às reformas e ao liberalismo econômico.

Não há nenhum espaço nem voluntariosos dispostos a se aventurar numa intervenção militar, até porque não haveria apoio internacional. Temos que conviver com o processo democrático. Neste momento, qualquer tipo de radicalismo é prejudicial, um atraso. Estaríamos enganando a nós mesmos. A democracia é o único caminho.

A economia está se recuperando aos poucos e o povo, mesmo sacrificado, tem consciência de como é difícil reconstruir um país depois de uma longa recessão como a que vivemos. Nós, apoiadores do governo Bolsonaro, devemos tomar cuidado para não acirrar os ânimos do Congresso Nacional e estimular revides que podem descambar numa crise político-institucional incontornável.

Como se diz em Minas Gerais, “devagar com o andor, que o santo é de barro”. A democracia é o melhor sistema político para o empreendedorismo e a livre iniciativa, mas sua vitalidade depende da harmonia e do respeito entre os poderes que a sustentam.

Executivo, Legislativo e Judiciário são os pilares sobre os quais a democracia se desenvolve num equilíbrio delicado e devem ser preservados com todo o cuidado para que o Brasil prossiga no seu esforço de se tornar uma nação próspera e desenvolvida.

Clésio Andrade

Empresário e empreendedor social, foi vice-governador de Minas Gerais (2003-2006) e ex-senador pelo MDB (2011-2014)

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