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Medo e prontidão

Datafolha mostra país temeroso, mas ciente da necessidade de agir contra vírus

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Rua 25 de Março, em São Paulo, com comercio fechado e pouco movimento de pessoas - Eduardo Knapp/;Folhapress

A pandemia do novo coronavírus despontou na China na virada do ano e tomou de assalto o noticiário ocidental com sua escalada europeia, desde o mês passado. No Brasil, não se contam duas semanas desde que o assunto assumiu a devida condição de emergência sanitária sem precedente.

Nesse contexto, é encorajador o resultado apontado pela pesquisa do Datafolha publicada neste domingo, que mostra uma população consciente da gravidade da crise.
Mais que isso, ao menos neste momento os brasileiros parecem entender que mudanças radicais nos seus hábitos cotidianos serão uma imposição pelo bem coletivo.

É o que se observa a partir, por exemplo, do contingente de 73% que admite a possibilidade de quarentenas temporárias para retardar a disseminação do patógeno.

Entre todas as medidas adotadas ou sugeridas por governos, o apoio é amplo: 95% aprovam veto a eventos com mais de cem pessoas, 78%, o isolamento domiciliar, 92%, a suspensão de aulas, e 94%, restrições a viagens internacionais.

Na base está a informação. A quase totalidade (99%) dos entrevistados se diz ciente da pandemia, e 72% se consideram bem informados. A mídia profissional, espicaçada pelo governo Jair Bolsonaro, é a principal fonte de dados sobre a crise, mantendo índices de confiabilidade muito superiores aos registrados por redes sociais.

Como seria esperado, a Covid-19 assusta. Temem a infecção 74% dos entrevistados —e 36% dizem ter muito medo. A situação é considerada muito séria por 88%.

A conscientização tem seus limites: 12% ainda acreditam que não correm risco de ser contaminados, índice que salta a 19% justamente entre o grupo de risco composto por aqueles maiores de 60 anos.

Essa fotografia inicial, de todo modo, mostra transformação considerável na percepção pública, tendo em vista o parco tempo de exposição ao cenário de emergência.

Hábitos foram mudados: bares e restaurantes não são mais opção para 76%, 43% cancelaram viagens. O contato pessoal, forma primária de propagação do vírus, foi contido na forma de beijos (75%), abraços e apertos de mão (77%).

As expectativas para a duração dos transtornos varia de forma expressiva. Enquanto existe uma parcela de 22% por demais otimista, a prever uma normalização dentro de 30 dias, outra também significativa fatia, de 16%, crê que a atual situação vai perdurar por um período entre quatro meses e um ano. Na média geral, 98 dias.

Tudo considerado, nota-se um estado de temor, sim, mas também uma atitude de prontidão e boa vontade, que precisa receber a contrapartida adequada das autoridades constituídas na forma de amparo aos vulneráveis, decisões tempestivas, empatia e liderança.

editoriais@grupofolha.com.br

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