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Negócio da China

Eduardo fomenta tensão diplomática enquanto se necessita de cooperação global

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O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) - Bruno Santos - 11.out.19/Folhapress

Entre as coisas de que o Brasil menos precisa neste momento de crise e incerteza é um entrevero com nosso maior parceiro comercial. Foi exatamente o que logrou produzir o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ao veicular mensagens responsabilizando a China pela pandemia da Covid-19.

Na quarta (18), o parlamentar, filho do presidente da República e presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, endossou a acusação de que a culpa pela disseminação global do novo coronavírus pertence ao Partido Comunista Chinês, comparando o caso ao acidente nuclear de Tchernóbil, ocorrido em 1986.

No dia seguinte, tentou dar nova interpretação a suas palavras, mas o problema já estava criado.

A resposta à fanfarronice foi drástica. Em tom de agressividade inusual na linguagem diplomática, o embaixador do país asiático declarou que as falas do deputado “são um insulto maléfico contra a China e o povo chinês”, que vai ferir a relação amistosa entre os dois países.

O vice-presidente, Hamilton Mourão, buscou aplacar o mal-estar afirmando que as declarações de um deputado não refletem a opinião do governo. Na contramão desse esforço, e certamente em busca de agradar ao chefe, o chanceler Ernesto Araújo divulgou nota em que pediu a retratação do embaixador chinês.

Publicadas no mesmo dia em que Jair Bolsonaro enfrentou protestos em diversas cidades do país, as mensagens do filho parecem ter o objetivo de excitar a militância bolsonarista das redes sociais, mirando um alvo também da predileção do americano Donald Trump.

Não que inexistam motivos para criticar o comportamento da China desde o surgimento do novo vírus. Parece claro que a ditadura agiu, no mínimo, de forma negligente nas primeiras semanas do surto, minimizando a importância da infecção e calando profissionais de saúde que alertavam para os perigos da doença.

Hoje, contudo, tendo controlado a epidemia, o país adquiriu um papel proeminente no auxílio a outras nações assoladas pela enfermidade —numa atitude em que não faltam pretensões geopolíticas.

Ao se comportar como parlamentar nanico, Eduardo Bolsonaro não só atrapalha uma parceria que proporcionou US$ 65 bilhões em exportações no ano passado como indispõe o Brasil com o governo chinês numa hora em que se necessita de cooperação global.

editoriais@grupofolha.com.br

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