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Ao ameaçar diplomatas venezuelanos, Bolsonaro abre mão de papel construtivo

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O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro - Fausto Torrealba/Reuters

A mais recente investida do governo Jair Bolsonaro contra o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, tem tudo para fazer barulho e se mostrar tão estéril quanto as iniciativas anteriores nesse campo.

Na última quinta-feira (5), o Itamaraty abriu caminho para expulsar 17 funcionários venezuelanos que atualmente trabalham em postos diplomáticos no Brasil, avisando as autoridades do país vizinho que serão todos defenestrados se não forem chamados de volta. 
 

Bolsonaro foi um dos primeiros chefes de Estado a reconhecer o líder oposicionista Juan Guaidó como presidente interino do país vizinho, há um ano, e apoiou as sanções econômicas impostas pelos EUA ao regime de Maduro.

Em junho, o mandatário aceitou as credenciais de uma advogada enviada por Guaidó como representante, gesto que se revelou inócuo diante da permanência dos funcionários indicados pelo chavista na embaixada em Brasília.

A medida tomada na semana passada certamente contribuirá para obstruir ainda mais os canais de que o Itamaraty dispõe para dialogar com os venezuelanos. Além disso, e pior, ameaça deixar sem amparo os brasileiros que vivem sob a derrocada do regime.

Embora a embaixada do Brasil em Caracas e os postos estabelecidos em outras cidades permaneçam abertos, ainda não se sabe como serão prestados os serviços de assistência consular.

Alheio aos efeitos práticos da iniciativa, Bolsonaro parece mais interessado no impacto político que ela terá entre seus seguidores mais fiéis e nos pontos que ele poderá ganhar com o presidente americano, Donald Trump, com quem se avistou no sábado (7).

Falar grosso com os venezuelanos, de todo modo, ajuda Bolsonaro a se contrapor a seus rivais na política doméstica, caso notório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que saiu mais uma vez em defesa de Maduro.

Questionado sobre a situação política no país vizinho, Lula disse que Juan Guaidó merecia estar preso e sugeriu que o fato de Maduro não ter mandado o adversário para a cadeia deveria ser visto como prova do respeito do ditador pelas regras do jogo democrático.

Sobre a violência da repressão aos opositores do regime nos últimos meses, ou sobre as restrições impostas à atuação dos adversários, mais uma vez não se ouviu uma palavra do líder petista.

Lula está afastado do poder, mas sua condescendência com o autoritarismo de Maduro só contribui para fortalecer o chavismo em decadência. Ao dobrar a aposta no confronto e abrir mão de exercer um papel mais construtivo na vizinhança, Bolsonaro acaba por alcançar o mesmo resultado.

editoriais@grupofolha.com.br

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