Cuidado ao levar seu dedo até a tecla CONFIRMA, pois pode ser perigoso esse seu pequeno deslize.
Tu não sabe o peso disso, chega até a causar D E S L I Z A M E N T O de terra, deixando pessoas muita vezes sem teto. E os sem-afeto continuam jogando lixo na rua.
Escuta, essa culpa também é sua, não faz o básico; acaba deixando pessoas carentes de cesta básica.
Que voltemos pra prática.
10 de fevereiro de 2020. Era 5h50. Só mais um dia de trampo; só mais um dia difícil. Se aqui chove, já fica inacessível.
Mas hoje, hoje “cê é loco”, quem viveu, viveu. Ou melhor: tem gente que está sobrevivendo, pois ainda tem lixo boiando. E ainda está chovendo.
Favela do Nove. Os prédios. E a linha. Sabe do que estou dizendo. “Eu perdi tudo”, diz uma mulher puxando a água do barraco. “Pifou meu freezer”, diz um comerciante intrigado.
Já eu, há seis anos, vi meu barraco sendo consumido pelo fogo.
Hoje, eu e meu irmão vimos o barraco sendo consumido pela água.
Não foi só eu que sofri. As duas favelas a minha volta também choram.
“Mas e agora?” Também não sei responder. Sofrimentos diários.
Estamos acostumados, mas no fim da noite temos onde deitar a cabeça. ”Mas e agora?”
Vi gente perdendo isso na minha frente, sinceramente. Que fique a pergunta na sua mente.
Gente que agora sem cama clama por melhora. De tanto chorar nem respira direito. Fui ajudar um amigo, passei no beco. Vi uma mulher xingando o prefeito. “Mas e agora?”
Olimpíada real você só vê aqui. Hoje vi o que era natação de fato. Levantamento de peso? Eu sou campeão.
“Tem que deixar os móveis 'atrepado'”, minha mãe disse. Braçadas, pique de canoagem com o rodo na mão. Porque a água não pode entrar e molhar mais um colchão.
Lágrimas se misturam com a água de quem chora e sabe que a vida daqui pra frente será mais difícil.
Minha mãe olha pra mim e fala: “De novo isso?”. Outro recomeço.
“Eu não mereço. Nem terminei de pagar as dívidas.” O sofá tão sonhado, que ela comprou no finalzinho do ano passado, agora se encontra suspenso em duas cadeiras. Ensopado.
Olho pra ela e não sei o que responder. Só queria saber o que dizer.
Mas tenho força pra escrever. E, do meu jeito, desabafar. Sei lá.
Essa fita tem que mudar, “tá ligado”? Pessoal da favela sofrendo, e a TV falando da marginal parada.
Pelo amor de Deus.
Enquanto eu me pergunto: E a vida, será que volta a andar? Será que o pessoal ainda tem força pra continuar? Do zero. Vejo a “mó” rapaziada de lero-lero.
E não sei o que andam falando sobre as favelas. Falam “pacarai” porque nunca acordaram com fogo nas telhas e água de esgoto nas canelas. Para as quebradas, eu desejo força. Somos fortes. Agradeço também a cada pessoa que me ofereceu ajuda.
Sou eternamente grato. Bagulho é “loco”, braço! A água tá batendo no peito lá na Atlas. Fiz esse texto com a água na altura dos joelhos.
Não sei até quando vou ver água nos olhos desse povo. Sinto a sensação de ser tudo de novo.
Só força.
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