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Nelson Sirotsky

Solidariedade e cooperação em tempos de coronavírus

Infectado, senti medo de várias formas, especialmente do desconhecido

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Nelson Sirotsky

Uma semana após chegar dos Estados Unidos, em meados de março, comecei a sentir alguns dos sintomas relacionados ao coronavírus. Por orientação médica, fiz dois testes para saber se eu estava com o vírus. O primeiro, em laboratório privado, deu negativo. Como eu não sentia falta de ar, fiquei aliviado, entendendo que estava com uma forte gripe. Decidi recolher-me em casa, em Porto Alegre.

Mesmo medicado, continuava sentindo-me mal, com febre, tosse, dor de cabeça e no corpo, uma indisposição generalizada. Mas ainda não apresentava falta de ar. Continuei em casa, tratando os sintomas, com acompanhamento médico. Foi quando recebi um telefonema da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul informando que minha contraprova havia dado positivo. A profissional me orientou a procurar um médico e desejou-me boa sorte.

O dono da RBS Nelson Sirotsky
O empresário Nelson Sirotsky, 67, membro do Conselho de Administração do Grupo RBS - Divulgação

A caminho da emergência do Hospital Moinhos de Vento, fui repassando mentalmente tudo o que havia lido e ouvido sobre coronavírus. Dei-me conta que eu estava com uma doença nova, sem um remédio previamente conhecido e que já atingia milhares de pessoas em todo o mundo, além de, infelizmente, também estar causando mortes. Sabia, ainda, que a minha faixa etária tem risco considerável. Senti medo de várias formas, especialmente do desconhecido.

Fui internado e isolado em uma área do hospital previamente organizada para receber pacientes com a Covid-19. A essa altura, já sentia que meu problema era respiratório também. Por decisão do meu médico, o clínico dr. Luiz Antônio ​Nasi, comecei a receber uma série de medicações, alertado de que ainda não havia comprovação científica da eficácia. Fiz muitas perguntas a ele: o que aconteceria comigo? E se não desse certo? Qual era o próximo passo? Entendi que não era o momento de falar sobre isso, que era preciso aguardar a evolução do meu quadro.

Durante os dez dias de isolamento, os únicos a entrar no meu quarto foram os profissionais da área da saúde, vestidos de forma adequada para sua própria proteção. Senti que essas pessoas estavam fazendo por mim tudo o que era possível. Meu celular também não parou, amenizando a solidão. Recebi centenas de mensagens, um enorme carinho. Por todas essas pessoas, tenho muita gratidão.

Saí do hospital na última quarta-feira (25), sinto-me muito bem, mas sigo em isolamento por mais alguns dias, na minha casa, por orientação médica e para cumprir as determinações das autoridades. Não tenho dúvida de que ter seguido a recomendação dos especialistas, com disciplina, foi decisivo para minha recuperação.

Estamos todos vivendo uma situação nova e, com certeza, teremos de superá-la juntos. Tudo o que está acontecendo no mundo tem de deixar para a humanidade, principalmente, um legado de solidariedade e cooperação. Os últimos meses nos mostraram que não é mais possível viver em um mundo onde cada um cuida de si, sem olhar para o lado. Isso não é mais suficiente. Cada um precisa fazer o que está ao seu alcance, sem omissão. Solidariedade não pode ser apenas conceito, mas, sim, uma atitude individual e coletiva.

Para superar os urgentes desafios que estão postos, precisaremos incluir nas nossas vidas o verdadeiro sentido da cooperação. Todos precisam ser maiores do que seus interesses individuais. Juntos encontraremos as melhores soluções para o todo, seja na área da saúde, da economia ou da proteção à população, especialmente dos mais vulneráveis. Mesmo em uma pandemia dessa dimensão, existe oportunidade de melhoria para cada um de nós como ser humano.

Nelson Sirotsky

Empresário de 67 anos e fundador da Maromar Investimentos, é membro do Conselho de Administração do Grupo RBS, onde trabalhou por 45 anos, dos quais 21 como presidente

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