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Tempestade de descaso

Chuva provoca calamidades em SP, RJ e MG, sem que autoridades tenham respostas

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Bombeiros trabalham em busca por desaparecidos no Morro do Macaco Molhado, no Guarujá - Eduardo Anizelli/Folhapress

Uma das mais sórdidas rotinas brasileiras, pelo que evidencia de atraso socioeconômico e descaso do poder público, a catástrofe que se repete a cada temporada de chuvas em diversas regiões do país causa mais uma vez mortes e desabrigo entre aqueles empurrados pela desigualdade para moradias precárias em locais de alto risco.

Seja na várzea dos rios imundos de São Paulo, seja em Minas Gerais ou nos morros da Baixada Santista e do Rio, o espetáculo trágico e revoltante se encena pontualmente.

Há sem dúvida situações climáticas que impõem adversidades de grande vulto a quem precise conter seus efeitos danosos —e existem sinais de que casos extremos vão se tornando mais frequentes com as mudanças causadas na atmosfera pela ação humana.

Antes de culpar as chuvas impiedosas pelos desastres, contudo, é imperioso reiterar uma causa que, infelizmente, há muito se conhece, sem que providências efetivas sejam tomadas para saná-la.

Trata-se da inépcia de governantes e demais autoridades em promover políticas habitacionais de largo alcance e em conter a ocupação de áreas de risco.

É espantoso que ainda se ouçam no Brasil tentativas de atribuir às populações que vivem em condições miseráveis a responsabilidade direta pela situação. Foi o que insinuou, por exemplo, em abjeta declaração, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos). 

“As pessoas gostam de morar ali perto dos talvegues [linha mais baixa de um vale por onde escorre a água da chuva e das nascentes] para gastar menos tubo e colocar cocô e xixi e ficar livre daquilo. Essas áreas são muito perigosas”, disse o alcaide carioca, cuja gestão, em final de mandato, vai escorrendo para o esgoto da política.

O cenário que se observa é devastador e exige pronta e eficaz atuação dos diversos níveis de governo para ao menos minimizar o desamparo e conter novos óbitos. 

Deveria ser desnecessário apontar que ainda mais relevante é estar preparado para as tempestades dos próximos anos, mas o descaso parece imune à experiência.

editoriais@grupofolha.com.br

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