Descrição de chapéu
Arnaldo Niskier

Um mineiro à beira-mar

Livro de Ruy Castro mergulha no Rio dos anos 1920

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Quem se acostumou com as colunas de Ruy Castro nesta Folha não há de ter estranhado a beleza do seu estilo exuberante no livro “Metrópole à Beira-Mar”, há pouco lançado pela Companhia das Letras. Leitura rica e agradável, certamente repetirá o êxito literário e de público dos seus sucessos anteriores, quando focalizou a vida de Nelson Rodrigues (1992), Garrincha (1995) e Carmen Miranda (2005). Desta feita, o foco foi o Rio de Janeiro dos anos 1920, com todo o seu enredo de atrações.

Mineiro de Caratinga, mas carioca por afeição, conheço bem a sua linda trajetória. Convivemos nos tempos gloriosos da revista Manchete, da qual ele foi um dos principais repórteres de uma equipe famosa. Chegou agora ao seu livro mais difícil, quando teve que reconstruir uma cidade, bairro a bairro, rua a rua, lugar por lugar, com centenas de minibiografias.

O escritor e professor Arnaldo Niskier, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) - Paula Giolito - 27.abr.11/Folhapress

São deliciosas as suas descrições do Carnaval carioca, o que representou Sinhô para o nosso samba, as repercussões da Semana de Arte Moderna e dos mitos que a compuseram, como o inesquecível pintor Di Cavalcanti. Na época, acontecia de tudo. Era uma cidade em convulsão na imprensa, na literatura, na música popular, na ópera, no teatro, nas artes plásticas, no cinema, na caricatura, na praia, na ciência, na arquitetura, no futebol, na luta das mulheres, no sexo e nas drogas. O Rio era sinônimo de arrojo e de vanguarda. É essa capital fervilhante a protagonista desse novo livro.

Na obra há várias referências à Academia Brasileira de Letras, a partir do célebre discurso de Graça Aranha, intitulado “O espírito moderno”. Embora pertencente aos seus quadros, Graça Aranha afirmou ser ela “uma reunião de espectros”. Pregava a sua ampla renovação.

Em outro momento, Ruy Castro focaliza a vida do artista gráfico J. Carlos, que trabalhava para as publicações O Malho, O Tico-Tico e Para Todos. Era uma figura talentosa, que marcou época, e que viveu seus últimos dias em Petrópolis (RJ).

Sem ter personagens vivos desse tempo aos quais recorrer para entrevistas (como pôde fazer nos livros anteriores), Ruy mergulhou em leituras e muita pesquisa. Foram quatro anos percorrendo, sobretudo, a imprensa, os romances e as crônicas escritas por personagens que, fora alguns, como João do Rio, caíram no esquecimento. 

Graças a Ruy Castro pôde-se registrar o alto apreço da colônia portuguesa pelo que representava João do Rio para a sociedade da época, como também outros escritores e jornalistas, como Theo-Filho, Benjamim Costallat e Álvaro Moreyra.

Arnaldo Niskier

Doutor em educação, é professor, jornalista, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e presidente do Centro de Integração Empresa-Escola do Rio de Janeiro (Ciee-RJ)

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